Língua de Ciro Gomes foge do controle do dono
Terceiro colocado nas pesquisas, atrás de Jair Bolsonaro e Marina Silva, Ciro Gomes realiza um esforço notável para manter sua língua na coleira. Mas ela começa a fugir do controle. Um dia depois de ter chamado o vereador negro Fernando Holiday (DEM-SP) de "capitãozinho do mato", o presidenciável do PDT abespinhou-se com o formato engessado de um congresso de prefeitos mineiros. Interrompido, ameaçou deixar o encontro. "Escuta, senão eu me retiro." Vaiado, ralhou com o público: "Eu não sou demagogo, eu quero governar o Brasil é para restaurar a autoridade dessa baderna que está acontecendo no país."
Dona de um estilo tonitruante, a língua de Ciro já demonstrou ao dono que, solta, não perde oportunidade de exercitar sua vocação para a autocombustão. O candidato detesta que se recorde, mas seu projeto presidencial desandou na sucessão de 2002 quando a língua declarou que o papel de Patrícia Pillar, a atriz com quem Ciro vivia, era o de dormir com o candidato. Ou quando ela chamou de burro o ouvinte de uma rádio que fez uma pergunta a Ciro.
A língua priva Ciro da razão mesmo nas ocasições em que ele parece estar certo. No encontro com os prefeitos mineiros, por exemplo, o candidato estava incomodado com a exiguidade de tempo para falar sobre temas complexos. Concederam-lhe cinco minutos de exposição e três minutos para as respostas. A certa altura, a língua chutou o balde: "Eu estava respondendo que a carga tributária subiu de 27,5% para 36% do PIB […] e fui interrompido na resposta para, em seguida, me perguntarem a mesma coisa. Vocês acham isso razoável?"
Esforçando-se para contemporizar, o moderador do encontro concedeu a Ciro mais três minutos. E a língua: "Eu abro mão". O candidato foi convidado, então, a fazer suas considerações finais. "Muito obrigado a todos", encerrou a língua, puxando Ciro para fora do palco.
No momento, as prioridades de Ciro são: fechar uma aliança partidária e alargar o seu cesto de votos. Entretanto, fiel ao velho estilo, o personagem começa a reencarnar a figura do candidato autoimune. É como se o fígado de Ciro produzisse uma toxina que ataca a língua e obstrui o processo sináptico, impedindo a comunicação entre neurônios vizinhos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.