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Josias de Souza

Políticos queriam exercer o monopólio do humor

Josias de Souza

21/06/2018 19h10

Numa tentativa de cercear a livre concorrência no mercado do humor, os congressistas incluíram na lei eleitoral uma regra de autoproteção. A sátira política foi proibida. Estabeleceu-se um monopólio. Nenhum humorista poderia ridicularizar os políticos, exceto os próprios políticos. Em decisão unânime, o Supremo Tribunal Federal derrubou, por inconstitucional, a proibição. Restabeleceu-se o ambiente de disputa entre os companheiros de profissão.

Celso de Mello, o decano da Suprema Corte, declarou em seu voto: "O riso deve ser levado a sério, pois tem papel de poderoso instrumento de reação popular e resistência social a práticas que configuram ensaio de repressão governamental e opressão do poder político." São palavras de alguém que sabe que o humor compreende tudo. O mau humor é que não compreende nada.

Num país engraçado como o Brasil, quando político vira piada e acha que pode regular o riso por meio de leis ordinárias, é sinal de que o humor adquiriu vida própria. Fica difícil distinguir os humoristas profissionais dos políticos amadores. Ambos fazem humor, mesmo que seja humor negro. A diferença é que os profissionais matam de rir. Os outros matam de raiva.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.