Falta um retrovisor à campanha de Eduardo Paes
Ao lançar sua candidatura ao governo do Rio de Janeiro, o ex-prefeito Eduardo Paes prometeu molhar a camisa para debelar "duas crises bastante profundas". Citou a ruína fiscal e o descalabro da segurança pública. E a corrupção? Bem, sobre a roubalheira o candidato não tem nada a dizer. Explicou que fará campanha "sem falar mal de ninguém". Deseja "trabalhar olhando para frente".
O governo do Rio foi à breca por dois motivos: seus gestores gastaram o que o Estado não tinha e roubaram o que sobrou. O descalabro foi produzido pelo (P)MDB, partido de Sergio 'Bangu 8' Cabral, Jorge 'Tornozeleira' Picciani, Luiz 'Delatado' Pezão e, até ontem, Eduardo 'Olhando para a Frente' Paes. Todos foram leais a Eduardo Cunha. Agora, filiado ao DEM, o ex-prefeito deseja que o eleitor passe uma borracha no passado. Espera que ninguém pergunte que fim levou aquele Rio de cara nova que o arrojo modernizante da dupla Cabral—Paes faria surgir.
O candidato que promete priorizar a segurança é o mesmo Paes quem, em 2009, desencadeou na prefeitura do Rio o "choque de ordem". A coisa consistia numa grandiosa ofensiva de fiscais e guardas municipais contra tudo o que era irregular na cidade – de camelôs a construções ilegais, passando por violações às regras de trânsito, transporte pirata, outdoor ilegal, o diabo…
Criou-se na prefeitura uma "Secretaria da Ordem Urbana". Nessa época, Paes dizia coisas assim: "Não é admissível que existam áreas da cidade em que o poder público não seja soberano". A ideia era utilizar a estrutura da prefeitura para, em parceria com o governo estadual, aplainar o terreno para um combate mais efetivo contra o crime.
Hoje, o carioca olha ao redor e só enxerga desordem urbana e violência. Ao lado do "legado da Olimpíada" doe 2016, outra marquetagem da prefeitura de Paes, o "choque de ordem" sobrevive na memória que o candidato a governador deseja apagar apenas como uma nova e criativa definição para conversa fiada.
O ex-prefeito diz que só tem olhos para o futuro. É muito cômodo, pois o futuro não pode ser cobrado nem conferido. O problema é que um candidato como Eduardo Paes, com um enorme passado pela frente, não tem o direito de conduzir uma campanha 100% feita de para-brisa. Falta ao projeto político do ex-parceiro de Cabral um bom retrovisor. "Meu CPF é outro", desconversa Paes. Pelo andar do lero-lero, o eleitor fluminense precisa ficar em estado de alerta.
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