Campanha terá dois mundos: o deles e o nosso
As convenções partidárias terminaram. O rol de candidatos inspira tédio e espanto. É tedioso porque a oligarquia política oferece ao eleitorado algo que Cazuza chamaria de um museu de grandes novidades. A disputa pelo Planalto será travada em dois mundos: o deles e o nosso.
No mundo deles, há um candidato fantasma num extremo e uma assombração no extremo oposto. No miolo, há postulantes cujas ideias não correspondem aos fatos e um centrão com a piscina cheia de ratos.
No nosso mundo, há 13 milhões de desempregados, mais de 60 mil de assassinatos por ano e corrupção. Faltam esgoto, bons hospitalais e escolas decentes. Para complicar, o tempo não pára —a eleição ocorrerá em 63 dias.
Na convenção do PT, Gleisi Hoffmann disse que a confirmação da candidatura fantasma de Lula é "a ação mais confrontadora que fazemos contra esse sistema podre."
O suposto candidato petista só apareceu nas máscaras aplicadas na face da militância. O Lula real, corrupto de segunda instância, apodrece na cela especial de Curitiba desde 7 de abril. Barrado, lançará o poste Haddad, com Manuela, do PCdoB, na vice.
A pseudo-candidatura de Lula, por ilegal, não constitui bom exemplo. Mas Dilma Rousseff, o poste anterior, desfilou pela convenção como um ótimo aviso. Carrega atrás de si o rastro pegajoso de uma eleição fraudulenta e um governo ruinoso.
Na convenção tucana, Alckmin afirmou que "ninguém aguenta mais um Estado infestado pela corrupção." Difícil discordar de um especialista. Quem olha ao redor do ninho enxerga Odebrecht, Rodoanel, Alston, Siemens, Paulo Preto, Aécio Neves… Tudo isso e mais o rebotalho do centrão.
Bolsonaro escolheu, finalmente, o seu vice. A candidatura do capitão, modelo 64, tinha um pé no quartel. Agora tem dois. O segundo da chapa, será o general Mourão. A patente é superior, mas o pensamento é igual. Apologistas da ditadura, ambos idolatram o torturador Brilhante Ustra.
Marina é o triunfo das boas intenções sem um manual de instruções capaz de traduzir seus propósitos "multicêntricos". Ciro é uma língua à procura de um cérebro que consiga domá-la.
No nosso mundo, o desejo de mudança está no ar desde 2013, quando a insatisfação foi para a rua e bateu panela.
No mundo deles, a melhor tradução do projeto de mudança está na célebre frase do jovem Tancredi, personagem do romance O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa: "Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude".
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