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Josias de Souza

Falido como partido, PT tenta a sorte como igreja

Josias de Souza

09/08/2018 18h23

Impossibilitado de apresentar o seu candidato no debate presidencial da TV Bandeirantes, o PT decidiu realizar um evento paralelo. Transmitirá no mesmo horário, pela internet, o "Debate com Lula". O nome não faz jus à iniciativa, pois Lula, preso em Curitiba, não dará as caras. E não haverá um debate, mas uma espécie de culto de adoração à divindade petista.

Em comunicado divulgado na tarde desta quinta-feira, o PT anotou: "Lula prometeu e, enquanto é mantido injustamente como preso político, sua voz segue ecoando por milhões de outras vozes espalhadas por todo o Brasil. E nesta quinta-feira, quem terá a missão de falar em nome do ex-presidente, durante debate transmitido em suas redes sociais, a partir das 22h, será a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann; o porta-voz de Lula, Fernando Haddad; um dos coordenadores do Plano Lula de governo, Sérgio Gabrielli; e Manuela D'Ávila."

Se o texto do Partido dos Trabalhadores significa alguma coisa, é o seguinte: a legenda não tem medo da morte. Mais: acredita em vida depois da morte. Melhor: a nota passa impressão de que a legenda de Lula já alcançou o paraíso. Após fenecer como partido, o PT ressurge na forma de uma religião. E tenta a sorte como igreja.

Missionários dos novos tempos, Gleisi, Haddad, Gabrielli e até a pecedobê Manuela se dispõem a arrastar as correntes do seu líder messiânico na internet porque são movidos por uma fé de inspiração cristã. O ingrediente da dúvida não faz parte do credo lulista. Seus devotos se alimentam da certeza de que a divindade presa é uma potência moral, que não deve contas senão à sua própria noção de superioridade.

Preso, Lula está em toda parte, menos no debate da TV Bandeirantes. Ali, a lei dos homens não permite que um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro se apresente ao eleitorado pagão como um novo Messias.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.