Marta cospe no prato em que já não pode comer
Ao farejar nas pesquisas o risco da derrota, a senadora Marta Suplicy desistiu de tentar a sorte nas urnas de 2018. Não pleiteará a reeleição. Beleza. Acontece. Mas Marta não precisaria piorar o que já não parece muito bom.
A senadora declara-se politicamente realizada: "Minha vida parlamentar está completa", disse. Ela está satisfeitíssima consigo mesma: "Fiz muito". O problema é que Marta ainda nem desceu do palco e já atira pedras no teatro.
"…Não tenho mais vontade de fazer esse tipo de trabalho porque lá [no Congresso], metade do tempo você passa tentando entender projetos que não estão claros, tentando barrar retrocessos, tentando achar espaço para se posicionar, vendo projetos mais ideológicos do que a favor do Brasil. Não vale mais a pena estar lá. Quero fazer minha parte na sociedade civil. Posso contribuir mais."
Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Todo mundo sabe que o Congresso, com suas bancadas corporativas —dos ruralistas, da Bíblia, da bala…— tornou-se uma instituição meio entreposto, meio dízimo, meio milícia. O que ninguém sabe é por que Marta fez tão pouco barulho durante o exercício do seu mandato. Ou por que deixou uma facção, o PT, para ingressar em outra, o (P)MDB.
Marta não é uma maruja de primeira tempestade. Tomada pela biografia, a senadora sabe que os grandes navegadores devem suas reputações aos temporais. Quando a borrasca é intensa, protagonista não abandona o barco.
Ao insinuar que deixa o Senado por vontade própria, não por falta de votos, Marta passa a impressão de que cospe num prato em que já não pode comer. Uma autocrítica soaria mais dignificante do que a crítica. Não restituiria os votos, mas ajudaria a entender os motivos que levaram o eleitor a exclui-la da mesa.
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