Num Legislativo enlameado, o pedido de aumento do Judiciário soa como ordem
A Lava Jato modificou o padrão estético do Congresso. Uma paisagem que era apenas constrangedora tornou-se patética. Hoje, basta que um parlamentar permaneça de cócoras para ser considerado um homem público de enorme altivez. É esse Legislativo apinhado de pequenas criaturas que irá decidir sobre o pedido de reajuste salarial dos ministros do Supremo —de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil por mês.
O aumento dos contra-cheques do Supremo descerá pelo organograma como uma cascata, semeando reajustes no topo das folhas salariais da União e dos Estados. Numa conta otimista, o custo será de R$ 4 bilhões. Numa projeção pessimista, não sairá por menos de R$ 5 bilhões. Como verba pública não é dinheiro grátis, alguém pagará. O preço mais alto tende a recair sobre a clientela pobre do Estado, pois não haverá saída senão cortar despesas com a manutenção de serviços públicos.
Na Câmara, dois em cada 10 deputados estão pendurados em processos que aguardam julgamento no Supremo ou em instâncias inferiores do Judiciário. No Senado, 4 em cada 10 senadores estão na mesma situação. Num ambiente tão enlameado, o pedido de amento do Judiciário soa como ordem. Já passou na Câmara, em 2016. Falta o Senado. O presidente poderia vetar. Mas há no freezer do Supremo duas denúncias criminais contra Michel Temer, que também responde a mais dois inquéritos. Ou seja: o bolso do contribuinte nunca esteve tão indefeso.
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