Topo

Josias de Souza

Datafolha sinaliza batalha pelo ‘espólio’ de Lula

Josias de Souza

22/08/2018 05h36

Quando o sujeito comunica a alguém que lhe deixou uma herança, não há coisa mais decente a fazer do que morrer rapidamente. Mas Lula retarda o enterro de sua candidatura-fantasma. Nesta semana, Fernando Haddad percorre o mapa do Nordeste fazendo pose de herdeiro natural. Contudo, a nova pesquisa do Datafolha sinaliza que o espólio eleitoral de Lula será disputado numa guerra fratricida entre Haddad, Marina Silva e Ciro Gomes.

Com sua teimosia metódica, Lula já conseguiu energizar o anti-Lula Jair Bolsonaro (22%), mas mantém o companheiro Haddad (4%) em cena como um poste apagado. No cenário sem Lula, informou o Datafolha, Marina (16%) e Ciro (10%) dobram suas taxas de intenção de votos. Os dois já pegam em lanças para avançar sobre o patrimônio da divindade petista, a quem serviram como ministros. Forçam o PT a discutir se vale a pena esticar a ficção que mantém Haddad longe dos debates.

Escorado numa mega-amostra de 8.433 entrevistas, o Datafolha revela que, por ora, a grande realização de Lula foi colocar Bolsonaro com um pé no segundo turno. O capitão carrega a maior taxa de rejeição (39%). Porém, empurrado pelo cabo eleitoral petista, furou o teto dos 20%. Seu eleitorado parece rochoso o bastante para enviá-lo ao segundo round. Confirmando-se essa tendência, restaria na disputa apenas uma vaga —a vaga de candidato a oponente de Bolsonaro.

Mesmo preso e inelegível, Lula é o preferido de 39% dos eleitores. Com o provável veto que sofrerá do TSE, restará uma pergunta: conseguirá promover uma transfusão de votos para Haddad? O eleitorado dividiu-se praticamente ao meio: 48% afirmam que jamais votariam num candidato indicado por Lula. Mas outros 49% manifestam a disposição de votar no poste petista (31%) ou pelo menos afirmam que "talvez" votem (18%).

Parece improvável que Haddad (4%) permaneça rigorosamente empatado com Alvaro Dias (4%) por muito tempo. Pela lógica, o prestígio de Lula o levaria a emparelhar rapidamente com Geraldo Alckmin (9%), passando a enxergar Ciro (10%) e Marina (16%) no para-brisas. O problema é que a campanha de 2018 é curta. E o relógio do PT já não tem ponteiros, mas espadas.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.