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Josias de Souza

Facada em Bolsonaro fere a própria democracia

Josias de Souza

06/09/2018 16h54

Não é banal a facada desferida contra o presidenciável Jair Bolsonaro num ato de campanha, na cidade de Juiz de Fora. Numa época em que a política brasileira vive a tensão dos radicalismos insensatos, o acontecimento fere a própria democracia. Trata-se de um momento de treva injetado num processo eleitoral que deveria representar um novo alvorecer. O fato produzirá consequências políticas.

A Polícia Federal informou em nota que o agressor foi preso. Não cabe no momento outra providência senão a de apurar com rigor as circunstâncias do crime e punir o criminoso. Mesmo numa democracia debilitada, a melhor resposta para os surtos de radicalismo é mais democracia. Num regime em que as liberdades públicas são plenas, um candidato tem todo o direito de ostentar um discurso virulento sem sofrer atos de violência.

Até aqui, apenas Lula fazia pose de vítima na cena eleitoral. O agressor de Bolsonaro produziu uma segunda vítima no extremo oposto. A um mês das eleições, a novidade tem potencial para influir na campanha. Pode elevar a taxa de intenção de votos de Bolsonaro, estimada pelo Ibope em 22%. Mas também pode estimular o aumento do índice de rejeição do candidato (44%) se a maioria do eleitorado enxergar no episódio uma evidência de que o Brasil precisa se reencontrar com a tolerância.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.