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Josias de Souza

Futuro do país passa pela cadeia e pelo hospital

Josias de Souza

08/09/2018 00h48

Mais do que em qualquer outra eleição, a campanha de 2018 colocou o Brasil numa encruzilhada. Um pedaço do eleitorado trafega pelo caminho que leva à cadeia. Outro naco de eleitores prefere a trilha que conduz ao hospital. Ao fundo, ouve-se o barulho provocado por meia dúzia de candidatos que se oferecem como alternativas ao poste fabricado atrás das grades e à vítima da facada, recolhida à UTI.

Consolidou-se um deslocamento geográfico da campanha presidencial. Preso, o ficha-suja inelegível transformou sua cela especial num comitê eleitoral de onde articula sua substituição na cabeça da chapa. Esfaqueado, o rival do polo oposto transforma seu drama clínico num grande ato de campanha, postando desde a UTI vídeos, fotos e mensagens nas redes sociais.

A um mês do dia da eleição, os dois protagonistas da disputa, Lula e Bolsonaro, guerreiam em trincheiras extremas: uma cela e uma UTI. As principais armas do combate são o veneno ideológico e a mistificação emocional. Num cenário assim, marcado por posições extremas, o extremismo que mais preocupa é o da agenda extremamente vazia. O maior perigo para o eleitor não é o risco da falta de sabedoria na escolha. O risco mais latente é o da falta de opção.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.