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Josias de Souza

Semimorto no Ibope, Ciro renasce no Datafolha

Josias de Souza

20/09/2018 03h32

Num intervalo de pouco mais de 24 horas, Ibope e Datafolha despejaram na praça dados frescos sobre a corrida presidencial. No atacado, detectam o mesmo sinal: a polarização entre Bolsonaro e Haddad. No varejo, expõem pelo menos uma diferença notável, fora da margem de erro. Num levantamento, Ciro aparece semimorto. Noutro, permanece vivo na briga por uma vaga no segundo turno.

Ciro manteve-se estático nas duas pesquisas: 11% no Ibope, 13% no Datafolha. A  diferença está no movimento de Haddad. No Ibope, o preposto de Lula deu um salto de 11 pontos percentuais. Bateu em 19% das intenções de voto, abrindo sobre Ciro um abismo letal de oito pontos.

No Datafolha, o poste petista avançou três casas. Foi a 16%, distanciando-se apenas três pontos percentuais de Ciro. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais —para cima ou para baixo—, a dupla estaria ainda em situação de empate técnico.

O mais importante na leitura de uma pesquisa é enxergar os movimentos que ela insinua. A transferência de eleitores de Lula para Haddad fica evidente nas duas sondagens. E não parece ter batido no teto, eis o movimento mais relevante.

Entretanto, dependendo do instituto, a candidatura de Ciro pode estar na UTI, respirando por aparelhos, ou na enfermaria, com os sinais vitais preservados. Para avançar, Ciro terá de conquistar votos do eleitorado de centro, hoje acomodado no cesto de rivais como Alckmin e Marina.

Há diferenças também nos cenários de segundo turno. No Ibope, Bolsonaro (39%) encosta em Ciro (40%). No Datafolha, Ciro ainda aparece como único candidato que venceria todos os rivais. Num embate direto contra Bolsonaro, prevaleceria com seis pontos de frente: 45% a 39%. Há dez dias, essa distância era de dez pontos.

Numa disputa em que quatro de cada dez eleitores admitem mudar de voto, a informação sobre o grau de competitividade no segundo turno é valiosa. Permite pelo menos que Ciro continue fustigando Haddad com perguntas como a que fez nesta quarta-feira: "Se houver uma crise grave, ele vai a Curitiba?"

De resto, os dois institutos trouxeram a mesma aferição da curva ascendente de Bolsonaro. O capitão oscilou dois pontos para o alto. Amealhou 28% das intenções de voto, cristalizando-se como o polo anti-PT. Quanto aos outros candidatos, as diferenças situaram-se dentro da margem de erro. Nos dois institutos, Alckmin e Marina, abaixo dos dois dígitos, saíram da disputa pela vaga de adversário de Bolsonaro no segundo round.

Numa campanha presidencial de quinta categoria, marcada pelo excesso de raiva, as pesquisas acabam ganhando mais cartaz do que as ideias. As estatísticas têm valor e merecem toda a atenção. Não é razoável que apenas candidatos e financiadores disponham dos dados. O eleitorado tem direito à informação. E pode fazer com ela o que bem entender. Mas do jeito que a coisa anda, quando perguntarem ao brasileiro em quem pretende votar ele vai acabar respondendo que está em dúvida entre o Datafolha e o Ibope.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.