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Josias de Souza

Lula sairá de 2018 consagrado ou desmoralizado

Josias de Souza

06/10/2018 05h34

Seja qual for o resultado das eleições, a reconstituição da história passará pela cadeia. Se Fernando Haddad for eleito, Lula terá feito a campanha mais espetacular desde a chegada das caravelas, elegendo o inacreditável. Se Jair Bolsonaro vencer, Lula descerá ao verbete da enciclopédia como um manipulador fracassado que elegeu com sua taxa de rejeição um presidente da República inimaginável.

Lula chega à beira da urna em posição constrangedora. Realiza um derradeiro esforço para evitar um fiasco: a vitória de Bolsonaro no primeiro turno. Expediu mais uma de suas correspondências do cárcere. Endereçou-a "ao meu querido povo brasileiro". Anotou: "Dia 06 de outubro é meu aniversário oficial. Espero ganhar de presente no dia 07 de outubro o voto do povo brasileiro no Haddad para presidente. Haddad é 13. Haddad é Lula. Um grande abraço do Lula. Sem medo de ser feliz".

Em verdade, Lula nasceu em 27 de outubro. Deve-se a menção ao dia 6 a um erro cometido na hora em que a certidão de nascimento foi lavrada. Com medo de que Bolsonaro o faça infeliz, Haddad apressou-se em trombetear a notícia falsa nas redes sociais nesta sexta-feira. "Amanhã, se completam 73 anos do nascimento do maior líder brasileiro da história", escreveu.

Haddad entrou na disputa tardiamente cantando como um sabiá em terra que tem palmeiras e cabo eleitoral presidiário. De repente, caiu-lhe a ficha. Notou que a hospitalização não impediu que Bolsonaro voasse com o vigor de um tico-tico que come o fubá do antipetismo pelas beiradas. O poste havia se programado para encerrar sua campanha em São Paulo. Na última hora, transferiu a agenda para o Nordeste. Teleguiado pelo controle remoto de Curitiba, tenta deter o avanço do capitão sobre uma cidadela do PT.

Não demora e todos saberão se Lula sairá de 2018 consagrado ou desmoralizado. Por ora, a única certeza à disposição é a seguinte: num Brasil empregocida, com quase 13 milhões de desempregados, a influência política da cadeia revela que o único empreendimento que prospera é a indústria da decadência.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.