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Josias de Souza

Temer vive a síndrome da 3ª denúncia criminal

Josias de Souza

15/10/2018 02h30

Faltam 76 dias para Michel Temer iniciar sua viagem do Planalto à planície. Descerá ao verbete da enciclopédia como o primeiro presidente da história a ser denunciado criminalmente em pleno exercício do cargo. Já coleciona duas denúncias. E vive cada dia do seu ocaso às voltas com a síndrome da terceira denúncia. Receia-se no Planalto que a nova acusação da Procuradoria-Geral da República será formalizada após o segundo turno da eleição presidencial.

Termina nesta segunda-feira (15) o prazo para que a Polícia Federal apresente ao ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo, as conclusões do inquérito sobre a suspeita de que Temer recebeu propina para editar um decreto favorecendo empresas portuárias. A expectativa é a de que os investigadores incriminarão Temer. Nessa hipótese, o processo será enviado à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a quem caberá arquivar o caso ou formular uma denúncia à Suprema Corte.

Confirmando-se a opção da Procuradoria pela nova denúncia, o Supremo só poderá enviar Temer ao banco dos réus, afastando-o do cargo, se a Câmara autorizar. Auxiliares do presidente avaliam que não haverá tempo. Acham que tampouco haverá interesse em reunir os 342 votos necessários. Isso porque Temer está tão desgastado que, na prática, virou um caso raro de ex-presidente no exercício da Presidência.

Se tudo correr como o Planalto imagina, Temer deixará o Planalto carregando três denúncias sobre os ombros —a terceira, que está por vir, e as outras duas que a Câmara já congelou. Despido de todas as prerrogativas do cargo de presidente, Temer estará disponível para ser processado na primeira instância do Judiciário. No limite, pode até receber a visita matutina dos rapazes da Polícia Federal.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.