Horário eleitoral é filme de James Bond sem 007
Num filme convencional de James Bond, algum solitário 007 irromperia em cena para salvar a humanidade. Com uma pistola implantada num isqueiro, o agente secreto eliminaria os supervilões antes que eles apertassem os botões que farão do Brasil um centro de torturas hipertrofiado ou uma clepto-ditadura. Como 2018 virou um filme sem mocinhos, o medo ganhou novas formas e plataformas.
Em 2014, a marquetagem de João Santana intercalou na televisão notícias falsas sobre rivais e um desfile apoteótico de plantações exuberantes, obras públicas tocadas em ritmo febril, fábricas operando a todo o vapor e povo usufruindo de prosperidade inaudita. Deu em estelionato eleitoral, recessão, desemprego e Michel Temer. O Tribunal Superior Eleitoral fechou os olhos para a lama.
Agora, novamente sob a complacência do TSE, o lodo transborda da TV para o telefone celular. Vem da esquerda e da direita. Na quantidade, a milícia cibernética pró-capitão, anabolizada por um caixa dois empresarial, prevalece sobre a guerrilha companheira. Petistas gritam: "Pega ladrão!". Bolsonaristas respondem: "Olha quem fala!" E a Polícia Federal, acionada pela Procuradoria, investiga os dois lados.
Podendo fornecer informação, a propaganda política levou ao eleitor mistificação e medo. Desinformado e angustiado, esse eleitor irá às urnas em uma semana. A maioria votará não no candidato preferido, mas no mal menor.
O Brasil não reativará o pau de arara. Tampouco virará uma 'Cuzuela'. Mas o centro tecnológico de produção de maldades continuará ativo. Restará suportar as consequências do voto e torcer para que a democracia providencie um James Bond em quatro anos. Gente como o cronista Rubem Braga, do tempo em que as geladeiras eram brancas e os telefones pretos, talvez passe a conferir as mensagens que chegam pelo celular com um sentimento de hedionda nostalgia.
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