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Josias de Souza

Marina Silva precisa dar ‘voto crítico’ a si mesma

Josias de Souza

22/10/2018 21h19

A seis dias do término do segundo turno, Marina Silva emergiu para declarar o seu "voto crítico" em Fernando Haddad. Moveu-se por rejeição a Jair Bolsonaro. Ao justificar sua opção, explicou que "pelo menos" o candidato petista "não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres".

Cumprido o protocolo, Marina precisa agora conceder um "voto crítico" a si mesma. Costuma dizer que não deseja "ganhar perdendo". Prefere "perder ganhando" —como em 2014, quando a pancadaria de Dilma Rousseff deixou-a fora do segundo turno, mas com um patrimônio de 22 milhões de votos. E com uma biografia sem pesticidas e alianças esdrúxulas.

Em 2018, Marina perdeu perdendo. Entrou na disputa como uma candidata altamente competitiva, a bordo de um partido sem menções na Lava Jato. Terminou numa constrangedora oitava colocação, com pouco mais de 1 milhão de votos. A Rede, sua legenda, terá de fundir-se a outro partido para não desaparecer.

No texto que redigiu para justificar seu gesto, Marina reconheceu: "Sei que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância de minha manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica. Mas é meu dever ético e político fazê-la."

Apoiando criticamente a si mesma, Marina talvez perceba que não terá futuro político sem ajustar o seu português ao linguajar da rua. De resto, deve se abster de tomar chá de sumiço pelos próximos quatro anos. Sob pena de suas manifestações perderem até mesmo o valor "puramente simbólico."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.