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Josias de Souza

Entre Haddad e Bolsonaro, Ciro optou por... Ciro

Josias de Souza

27/10/2018 19h05

De volta à ativa, Ciro Gomes pendurou um vídeo nas redes sociais. Não tomou posição em relação ao mata-mata presidencial, como desejava o petismo. Ao contrário. Subiu no caixote eletrônico para lançar suas duas novas candidaturas. Ciro lançou a si mesmo para o posto de líder da oposição a um eventual governo Bolsonaro. E armou o palanque para sua candidatura presidencial em 2022.

Espremendo-se o teor do vídeo, extrai-se o seguinte sumo: Entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, Ciro preferiu apoiar Ciro. Foi o que informou na seguinte frase: "Claro que todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha, mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática que eu não quero dizer agora. Porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é que eu não quero."

Em vez se manter como linha auxiliar do PT, Ciro furou a fila, colocando-se na frente da disputa pelo posto de líder oposicionista. Fez isso ao afirmar: "O que precisa para o Brasil a partir de segunda-feira é que a gente construa um grande movimento que proteja a democracia e a sociedade mais pobre".

Em seguida, Ciro adiantou seu relógio em quatro anos. Com os olhos voltados para 2022, declarou: "Minha consciência me aponta a necessidade de preservar um caminho em que a população brasileira amanhã possa ter uma referência para enfrentar os dias terríveis que, imagino, estão se aproximando… Estarei na linha de frente com todos vocês."

No primeiro turno, Lula e o PT fizeram o diabo para puxar o tapete de Ciro. Quando se esboçava uma chapa Ciro-Haddad, Lula desligou a articulação da tomada. No instante em que o PSB ensaiava uma coligação com o PDT de Ciro, Lula desmontou o arranjo com um par de conversas carcerárias.

Ciro parece ter entendido o recado. Após amealhar a terceira colocação no primeiro turno, fez as malas e tomou chá de sumiço. Os apelos de Haddad por uma palavra de apoio lhe chegaram na Europa. Manteve um ensaiado silêncio. Sem dizer nenhuma palavra, gritou: "Vai procurar a tua turma."

Passada a eleição, Ciro dirá o que pensa do PT. "Não quero dizer agora, porque, se eu não posso ajudar, atrapalhar é que eu não quero."

Na próxima semana, Ciro deve ecoar o desabafo do irmão Cid Gomes, que declarou há duas semanas: Haddad vai "perder feio" a eleição. E será "bem feito", porque o PT "fez muita besteira" e se recusa a protagonizar "um mea-culpa". Não há muito a fazer, pois "o Lula está preso, babaca."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.