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Josias de Souza

Saída para o ‘Mais Médicos’ é menos politicagem

Josias de Souza

16/11/2018 20h06

Bolsonaro declarou guerra aos médicos cubanos já na campanha. Disse que, eleito, enviaria todos de volta para Cuba com "uma canetada". Foi com uma canetada também que Dilma criou o Mais Médicos em 2013, levando o programa à vitrine de sua campanha à reeleição no ano seguinte. Agora, com outra canetada, Havana antecipou-se a Bolsonaro, rompendo o acordo que mantinha no Brasil quase 8,4 mil médicos, algo como 45% dos profissionais arregimentados pelo Mais Médicos.

A polêmica ferve nas manchetes. Bolsonaro troca farpas com Cuba. O PT sobe no caixote para atacar o capitão. Em meio a tantos protagonistas, um personagem central fica em segundo plano: o brasileiro pobre dos fundões do país ou da periferia das grandes cidades. Para 28 milhões de pessoas, clientes potenciais dos médicos cubanos, pouco importa se o jaleco é vermelho ou verde-amarelo. O essencial é que ele esteja presente sempre que a dor apertar.

Em sua manifestação mais recente, Bolsonaro disse: "Nunca vi uma autoridade no Brasil dizer que foi atendida por um médico cubano. Será que nós devemos destinar aos mais pobres profissionais sem qualquer garantia de que sejam realmente razoáveis?" Ora, nunca viu nem verá. Dilma, quando precisou, tratou-se no Sírio Libanês. Bolsonaro, socorre-se no Albert Einstein. O brasileiro paga a conta.

Dilma sabia que o Mais Médicos era um remendo que não resolveria o problema. Bolsonaro sabe que a saída atabalhoada dos médicos cubanos, sem uma substituição simultânea da mão de obra, é um desastre que agravará o drama. E os brasileiros afetados pelos programas que começam e terminam assim, em ritmo de truque cinematográfico, sabem que a única saída para garantir mais médicos é menos politicagem.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.