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Josias de Souza

Maldição da Casa Civil assedia Onyx Lorenzoni

Josias de Souza

17/11/2018 06h40

Deslocado por Jair Bolsonaro da periferia da Câmara para o epicentro do poder, Onyx Lorenzoni, o ministro extraordinário da transição de governo, experimenta a sensação de enfiar um dedo na fava de mel, lamber o dedo e vislumbrar as dádivas do mundo. Porém, Onyx talvez tenha de começar a fugir das abelhas antes mesmo de chegar ao Planalto. A maldição da Casa Civil chegou mais cedo para ele.

Mede-se o tamanho da encrenca pela quantidade de veneno estocado. A banda militar do futuro governo acha que Onyx puxa o tapete do general Oswaldo Ferreira, hoje um ex-quase-futuro-superministro da Infraestrutura. A ala política avalia que Onyx coloca azeitonas demais na empada do seu partido, o DEM. Escanteado, o PSL lança fachos de luz na direção dos pés de barro de Onyx.

Colecionador de desafetos, Onyx é assediado por uma síndrome que costuma perseguir os ocupantes do principal gabinete do quarto andar do Palácio do Planalto: a praga dos superpoderes. Para complicar, os superpoderes do futuro chefe da Casa Civil começam a esbarrar em superpoderes maiores do que os seus —como os do clã Bolsonaro e o de Paulo Guedes, o Posto Ipiranga.

Na era petista, a Casa Civil foi ocupada por seis personagens. Um está prestes a voltar para a cadeia (Dirceu), outro está atrás das grades (Palocci), uma terceira foi fisgada na Operação Zelotes (Erenice), dois encrencaram-se nas franjas da Lava Jato (Mercadante e Gleisi) e uma outra sofreu impeachment depois de ser vendida ao eleitorado como supergerente impecável (Dilma). Sob Temer, a Casa Civil abriga matéria-prima para a Polícia Federal (Padilha).

O que distingue Onyx de superministros que o antecederam é o fato de que, no seu caso, a urucubaca chegou antes da posse. Quando encostou seu mandato no projeto político de Bolsonaro, Onyx considerava-se capaz de fazer o bem para o capitão. Hoje, ele precisa verificar se consegue parar de fazer mal a si mesmo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.