Bolsonaro imita Temer: ‘Não é nem réu ainda!’
Após indicar para o Ministério da Saúde o deputado Luiz Henrque Mandeta (DEM-MS), investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois, Jair Bolsonaro declarou: "Olha só, tem uma acusação contra ele de 2009, se eu não me engano. …Não é nem réu ainda. O que está acertado entre nós? Qualquer denúncia ou acusação que seja robusta, não fará mais parte do nosso governo."
Corta para o Planalto. Dia 13 de fevereiro de 2017. Ardia nas manchetes a delação da Odebrecht. Michel Temer, às voltas com ministros investigados, veio aos holofotes para declarar: "Se houver denúncia, o que significa um conjunto de provas eventualmente que possam conduzir ao seu acolhimento, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Logo depois de acolhida a denúncia, e aí sim, a pessoa, no caso o ministro, se transforma em réu (…) o afastamento é definitivo." (assista no vídeo abaixo)
Com palavras diferentes, Bolsonaro e Temer disseram a mesma coisa. Ambos convivem pacificamente com a ideia de entregar nacos do Orçamento da União para gestores suspeitos de corrupção. A única diferença entre os dois é que Bolsonaro havia sinalizado para os seus eleitores que jamais transigiria com o malfeito. Se tivesse avisado que preencheria um pedaço da Esplanada seguindo os padrões estéticos de Temer, o capitão talvez perdesse alguns milhões de votos.
Um candidato só se conhece em uma situação: depois de eleito. Quando está pedindo votos, o que o político fala não merece 100% de crédito. Quem acredita em tudo, inbeciliza-se. O que intranquiliza no caso de Bolsonaro não é o comportamento típico, mas a velocidade com que o discurso do candidato se distancia da prática do eleito. Antes mesmo da posse, abre-se uma fresta com potencial para virar abismo.