Conjuntura brasileira transita em dois mundos
A simultaneidade de dois fatos reforça a sensação tediosa de que a atual conjuntura brasileira trafega em mundos distintos. Há o mundo das autoridades e o mundo do brasileiro comum. Aos fatos: No Rio de Janeiro, a Polícia Federal amanheceu no Palácio das Laranjeiras. Prendeu, em pleno exercício do mandato, o governador Luiz Fernando Pezão, acusado de grossa corrupção. Em Brasília, horas depois, o Supremo Tribunal Federal reuniu-se para dar sequência ao julgamento sobre o decreto em que Michel Temer incluiu os corruptos condenados como beneficiários de um indulto que perdoa 80% das penas e até 100% das multas.
No mundo das autoridades, um presidente da República que apodrece no cargo, acumulando denúncias e inquéritos, sente-se inteiramente à vontade para conceder indulto a corruptos num instante em que ele próprio, seus assessores e companheiros de partido se dividem em dois grupos: os presos —como Sergio Cabral, Eduardo Cunha e, agora, Luiz Fernando Pezão— e o resto, que aguarda na fila. Nesse mundo, por mais que os escândalos transbordem, a corrupção viceja.
No mundo do brasileiro comum, o que há são 12 milhões de desempregados e mais de 60 mil de assassinatos por ano. Além de empregos e segurança faltam esgoto, bons hospitalais e escolas decentes. Nesse mundo a corrupção é violenta. Ela mata literalmente, na maca do hospital, na bala que se perde na favela… Ela mata metaforicamente, na escola pública que, desequipada, forma subcidadãos.
Os sentimentos são diferentes nos dois mundos. No mundo do brasileiro comum, onde a fome de limpeza está no ar desde 2013, o brasileiro fica com raiva da falta de decência. No mundo das autoridades, os corruptos nunca ficam com raiva. Eles ficam com tudo. Inclusive, sempre que possível, com a impunidade.
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