Entregar sindicatos a Moro não faz nenhum nexo
Ministro Extraordinário da Transição e futuro chefe da Casa Civil, o deputado Onyx Lorenzoni confirmou que Jair Bolsonaro decidiu extinguir o Ministério do Trabalho, distribuindo suas atribuições entre outras três pastas: Economia, Cadadania e Justiça. A tentar explicar a lógica que estaria por trás da decisão, Onyx tropeçou nas primeiras palavras. Deu-se no exato instante em que justificou a ideia de enfiar um pedaço da estrutura do Trabalho dentro da estrutura da Justiça.
Nas palavras de Onyx, a parte que ficará com Sergio Moro "é aquela ligada à concessão de carta sindical". Uma área em que "a imprensa já registrou problemas e casos de corrupção." Se for tomado ao pé da letra, o critério mencionado pelo ministro justificaria a extinção de algo como 80% da Esplanada dos Ministérios, pois a corrupção, por endêmica, contaminou quase todo o organograma do Estado.
É verdade que o Ministério do Trabalho virou um balcão a serviço dos partidos. Sob Lula e Dilma, serviu ao PT e ao PDT. Sob Temer, foi capturado por PTB e Solidariedade. Está em pleno andamento a Operação Registro Espúrio, na qual a Procuradoria e a Polícia Federal varejam um esquema de troca de registros sindicais por propina. Mas isso não justifica a conversão dos sindicatos num tema exclusivamente policial.
Sergio Moro, como futuro superior hierárquico da PF, poderia acompanhar o andamento da denúncia que encrencou figurões como Roberto Jefferson (PTB) e Paulinho da Força (Solidariedade) sem que o futuro dos sindicatos tivesse que ficar relegado a plano secundário na pasta da Justiça. Do contrário, Bolsonaro teria de anunciar a extinção do próprio Ministério da Economia.
Entre os personagens pilhados na Lava Jato estão os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, que comandaram a economia na era petista. As investigações revelam que ambos transformaram a área econômica num balcão hipertrofiado, sobre o qual se vendia tudo —de medidas provisórias com benefícios fiscais e empréstimos do BNDES com juros companheiros. Se Sergio Moro virou o Posto Ipiranga para assuntos de ladroagem, por que não confiar a ele também o Ministério da Economia?
Certas decisões reforçam a impressão de que o planejamento do futuro governo é incapaz de resolver alguns problemas. Mas revela-se genial na organização das próximas confusões.
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