Bolsonaro quer índio ‘igual a nós’! O que é igual?
Um grupo de cerca de 80 indígenas, representantes de 40 etnias, foi ao escritório do governo de transição para tentar um contato com Jair Bolsonaro. Eles tinham um pedido a fazer: queriam que a Funai permanecesse no Ministério da Justiça, que será comandado por Sergio Moro. Os índios não foram recebidos. E a reivindicação que eles não tiveram a oportunidade de fazer foi ignorada.
Depois de cogitar o encaixe da Funai no organograma da Agricultura, onde as terras indígenas ficariam automaticamente subordinadas aos interesses do agronegócio, Bolsonaro decidiu enfiar a entidade que cuida dos índios dentro do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A pasta será chefiada pela pastora evangélica Damares Alves —uma espécie de sub-Magno Malta, de quem ela foi assessora.
O grupo de indígenas tinha uma razão objetiva para pedir que a Funai ficasse com Sergio Moro. Um dos grandes problemas dos índios brasileiros é o eterno conflito fundiário. E o único ministério aparelhado para deter a violência é o da Justiça, que dispõe da força da Polícia Federal. Mas o novo governo acha que tudo ficará bem porque a ministra Damares é "mãe de uma índia" e Bolsonaro está decidido a integrar os índios à sociedade.
Na velha marcha de Carnaval, o índio queria apito. Hoje, diz Bolsonaro, "o índio quer médico, quer dentista, quer televisão, quer internet." O capitão promete: "Vamos proporcionar meios para que o índio seja igual a nós." Faltou definir o que é "igual a nós" num país em que, segundo o IBGE, o número de pobres roça a casa dos 55 milhões de brasileiros. Essa gente, que tenta sobreviver com até R$ 406 por mês, deveria formar uma nova tribo e marchar sobre Brasília para exigir de Bolsonaro o que ele promete aos índios: uma grande reserva, com segurança de condomínio fechado, médicos do Sírio Libanês, dentistas bancados pelo contribuinte, TV a cavo e internet de graça.
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