Moro não deve dar explicações, mas cobrá-las
Instado por repórteres a comentar o caso Coaf, Sergio Moro declarou nesta segunda-feira: "Fui nomeado para ser ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso." De fato, o futuro ministro não deve dar explicações, mas cobrá-las.
Moro acrescentou: "Acho que o que existia de ministro da Justiça opinando sobre casos concretos é inapropriado." Não deu nome aos bois, mas decerto referia-se a antecessores como Márcio Thomaz Bastos e José Eduardo Cardozo.
Seria realmente lamentável se Moro opinasse sobre um caso que encosta sua futura pasta na família Bolsonaro com ares de advogado de defesa —como por vezes fizeram Thomaz Bastos com Lula e Cardozo com Dilma Rousseff.
"O ministro da Justiça não é uma pessoa que deve ficar interferindo em casos concretos. E eu nem sou, ainda, ministro da Justiça", afirmou Moro. Ok, não é ministro. Mas a posse ocorrerá daqui a escassos 21 dias.
De resto, é, sim, papel do ministro interferir. Não para inibir, mas para vitaminar as apurações. Num momento em que Moro compõe o staff do novo Coaf, prometendo fortalecer o órgão, seria ótimo que usasse o "caso concreto" para iluminar intenções abstratas.
O fato de não ser, ainda, o titular da Justiça não impediu Moro de declarar: "Eu não assumiria um papel de ministro da Justiça com o risco de comprometer a minha biografia, o meu histórico."
Foi na condição de quase-futuro-ministro que Moro afirmou: "Eu defendo que, em caso de corrupção, se analisem as provas e se faça um juízo de consistência, porque também existem acusações infundadas, pessoas têm direito de defesa. Mas é possível analisar desde logo a robustez das provas e emitir um juízo de valor. Não é preciso esperar as cortes de Justiça proferirem o julgamento."
Ora, alguém que disse coisas tão definitivas não deveria se incomodar com os pedidos para que que defina melhor as coisas. "Até vi que tem pessoas cobrando uma posição, mas são as pessoas que têm que prestar esclarecimentos O presidente já prestou os dele."
Tomado pelas palavras, o ex-juiz parece ter considerado satisfatórios os "esclarecimentos" de Jair Bolsonaro. Submetidos ao padrão Lava Jato, tais "esclarecimentos" não seriam senão matéria-prima para o aprofundamento das investigações.
Por uma trapaça do destino, descobriu-se que R$ 24 mil saltaram da movimentação bancária "atípica" de R$ 1,2 milhão do ex-motorista do primeiro-filho Flávio Bolsonaro para a conta da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. O marido-presidente sustenta que se trata de pagamento de empréstimos não-contabilizados que fez ao tal ex-motorista.
Moro não precisa cometer a descortesia de desqualificar alegações preliminares de uma investigação incipiente. Mas pode deixar claro, desde logo, algo que sempre foi incontroverso: Quem tem calos não deveria se meter em apertos.
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