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Josias de Souza

Interesse público encontra-se indefeso em Brasília

Josias de Souza

12/12/2018 20h36

Neste período de final de ano, enquanto o brasileiro que ainda tem emprego compra presentes e organiza a ceia de Natal, formou-se no Congresso uma aliança nefasta. Parlamentares não-reeleitos se juntaram a congressistas que só terão um novo encontro com o eleitorado dentro de quatro anos. Juntos, eles criam despesas e concedem benefícios fiscais com uma generosidade incompatível com a penúria dos cofres do governo. A principal vítima dessa emboscada é o interesse público.

Na noite de terça-feira, os deputados aprovaram, sem alarde, a renovação de incentivos fiscais concedidos a empresas instaladas nas regiões Norte e Nordeste. Para que você entenda bem é preciso dizer o seguinte: incentivo fiscal é um outro nome para renúncia de receita. O Estado abre mão de arrecadar impostos que financiariam serviços públicos. Benevolentes, os congressistas incluíram na festa a região Centro-Oeste.

O Ministério da Fazenda fez as contas. Isso vai custar R$ 3,5 bilhões por ano. Ou R$ 17,5 bilhões em cinco anos. A brincadeira foi para a sanção presidencial. A área econômica deve recomendar o veto. A recomendação deve ser ignorada por Michel Temer. Horas antes da votação da Câmara, o presidente sancionou uma outra farra aprovada há duas semanas. Chama-se Rota 2030. Concede isenção de impostos a fabricantes de automóveis. Coisa de R$ 16,6 bilhões em quatro anos.

Alheios ao quadro de insolvência do Tesouro Nacional, os parlamentares tramam ainda conceder a si mesmos um presente. Querem estender para os seus próprios bolsos o reajuste salarial recém-concedido aos ministros do Supremo. Em vez de R$ 33,7 mil, passarão a receber R$ 39,2 mil por mês. Não há previsão orçamentária para os benefícios fiscais nem dinheiro em caixa para os tônicos salariais. Mas quem se importa? O interesse público está indefeso em Brasília.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.