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Josias de Souza

Autossuficiência de Guedes já provoca ciumeira

Josias de Souza

16/12/2018 05h40

Após recrutar seus auxiliares sem fazer concessões a palpites alheios, o futuro superministro Paulo Guedes (Economia) ultrapassa os limites de suas chinelas em incursões pelo campo minado da política. Sua movimentação provoca uma ciumeira no escritório de transição de governo. Ali, avalia-se que o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro opera como se desejasse abrir uma filial no mundo da política, estabelecendo relações diretas com o Congresso.

Num instante em que Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, monta um time de parlamentares barrados nas urnas para ajudá-lo na coordenação política, Paulo Guedes entregou a poltrona de Secretário Especial de Previdência ao deputado não-reeleito Rogério Marinho (PSDB-RN). Enquanto Onyx ergue barricadas contra Rodrigo Maia e Renan Calheiros, Guedes constrói pontes com os candidatos favoritos ao comando da Câmara e do Senado.

Nas palavras de um dos náufragos eleitorais selecionados para o time de Onyx, Paulo Guedes comporta-se como "um craque fominha de time de futebol, do tipo que acha que pode cruzar a bola e correr para cabecear na grande área." Alijados da composição da equipe ministerial de Bolsonaro, líderes de partidos com pendores governistas enxergam na dualidade de comandos um prenúncio de curto-circuito.

Em privado, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira, declara-se surpreso com o tamanho da ambição de Paulo Guedes. Diz ter ouvido do futuro ministro o desejo de aprovar rapidamente no Congresso emendas à Constituição tão complexos quanto a reforma da Previdência e a eliminação das chamadas despesas constitucionais obrigatórias.

A ideia de Paulo Guedes seria eliminar os percentuais fixos de gastos em áreas como Saúde e Educação. Os investimentos nesses setores deixariam de ser vinculados à receita corrente líquida do governo e passariam a ser corrigidos apenas pela inflação. Michel Temer tentou mexer na Previdência e sonhou com a eliminação das despesas constitucionais obrigarias. Fracassou. Desunido, o time de Bolsonaro entra em campo com aparência com disposição para marcar muitos gols. Contra.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.