Guedes puxa a ‘faca’ para baronato empresarial
O grosso do empresariado nacional está encantado com Jair Bolsonaro. Regozija-se ao ouvir o capitão dizer que "ser patrão no Brasil é um tormento". Extasia-se quando ele declara que o trabalhador precisa aceitar "menos direitos" para ter "mais trabalho". A coisa começava a ficar monótona quando, nesta segunda-feira, o futuro ministro Paulo 'Posto Ipiranga' Guedes colocou na roda um brinquedo novo, com potencial para melhorar a qualidade do jogo: o alçapão do Sistema S.
"Tem que meter a faca no Sistema S", disse o novo czar da economia num almoço oferecido pela Firjan, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. A franqueza, por inusual, espantou a plateia. Paulo Guedes não se deu por achado: "Óóóóóóó… A CUT perde o sindicato e aqui fica tudo igual? O almoço é bom desse jeito e ninguém contribui?", indagou, evocando o artigo da reforma trabalhista de Michel Temer que retirou o imposto sindicial (um dia do suor de todos os trabalhadores formais) da caixa registradora dos sindicatos de trabalhadores.
Sob fachada altruísta, entidades como Sesi, Senai, Senac e Senat escondem armadilhas pouco debatidas. Coisa farta: R$ 16,4 bilhões em 2017. Mais de R$ 17 bilhões em 2018. "A gente tem de cortar pouco para não doer muito", disse Paulo Guedes aos comensais. Ele insinuou que é melhor negociar do que espernear: "Se o interlocutor é inteligente, preparado e quer construir, como o Eduardo Eugênio (Gouveia, presidente da Firjan) corta 30%. Se não, corta 50%." Língua em riste, o economista falou com uma clareza de água de bica: "Não adianta cobrar sacrifícios dos outros e não dar o exemplo".
O anfitrião Eduardo Eugênio tentou jogar água na fervura. Reconheceu que é possível aperfeiçoar a gestão do Sistema S. Mas contemporizou: "Em todo mundo civilizado existem recursos públicos importantes para a qualificação de mão de obra, nós temos que dar chances à juventude descobrir trabalhos cada vez melhores e cada vez tecnicamente mais qualificados." Beleza. Entretanto, o problema não está no financiamento da capacitação da juventude, mas na blindagem de um peleguismo patronal decrépito.
Em notícias veiculadas na Folha, a repórter Raquel Landim deu uma boa ideia do descalabro. Além se agarrarem nas poltronas por períodos que variam de oito anos a mais de 40 anos (leia aqui), alguns dirigentes de federações patronais são acusados de corrupção e outros crimes (aqui). Ou seja: não falta matéria prima para a atuação da faca de Paulo Guedes. Resta saber se a lâmina do Posto Ipiranga conseguirá passar da retórica à prática.
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