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Josias de Souza

Otimismo pré-posse é coisa altamente perecível

Josias de Souza

23/12/2018 06h56

Ás vésperas da posse de Jair Bolsonaro, o Datafolha informa que é grande, muito grande, enorme o otimismo do brasileiro com o futuro da economia: 65% avaliam que a situação vai melhorar nos próximos meses. Trata-se de um nível recorde de esperança, comparável ao que havia no alvorecer do primeiro mandato de Lula. Para tirar proveito da conjuntura, o novo governo precisa correr, pois o otimismo pré-posse costuma ter prazo de validade curto.

O economista Mário Henrique Simonsen ensinou que "o brasileiro só é otimista entre o Natal e o Carnaval." Nesse trecho do calendário, o otimismo é um processo mental que faz com que tudo pareça lindo, inclusive o feio. Tudo bom, especialmente o ruim. Tudo certo, mesmo quando errado. De resto, num instante em que a economia está sedada e o país convive com 12 milhões de desempregados, o otimismo tem o tamanho e a audácia do desespero.

Se tiver juízo, Bolsonaro aproveita a onda para apressar a aprovação de reformas no Congresso, especialmente a da Previdência. Segundo o Datafolha, 67% dos brasileiros acham que sua situação econômica pessoal vai melhorar. Em março de 2013, sob Dilma Rousseff, 68% achavam a mesma coisa. Três meses depois, o asfalto ferveu na célebre jornada de junho de 2013. Deflagrou-se ali um processo de derretimento político que desaguaria no impeachment.

Os únicos lugares onde o otimismo e a esperança vêm antes do trabalho são as pesquisas de opinião e o dicionário. Ao discursar na cerimônia em que foi diplomado pela Justiça Eleitoral, o próprio Bolsonaro sintetizou com muita precisão o que o brasileiro espera do governo dele: "Nossa obrigação é oferecer um Estado eficiente, que faça valer a pena os impostos pagos pelo contribuinte". Se demorar, o capitão logo descobrirá que, em política, a esperança, por perecível, é a última que mata.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.