Cabral com tornozeleira desmoralizaria Lava Jato
Sergio Cabral apaixonou-se pela ideia de virar um delator premiado. Se for um sentimento platônico, será inofensivo. Se a paixão for correspondida, a Lava Jato pode estar em apuros. Ainda que Cabral revelasse uma insuspeitada conexão entre a roubalheira que humilha o Rio de Janeiro e o Vaticano, a negociação de um acordo de colaboração premiada a essa altura seria um flerte do Ministério Público Federal com o escárnio.
Irreconhecível, Cabral ingressou na política como um homem de bem. Cresceu na vida pública como um homem que se dá bem. E caiu em desgraça ao ser flagrado com os bens. Uma avalanche de sentenças soterrou-lhe a biografia. Por ora, coleciona condenações que, somadas, resultam em 198 anos e seis meses de prisão.
O ex-governador do Rio chegou a esse ponto escarnecendo dos investigadores. No princípio, negava todos os crimes. Mas sua inocência virou uma ilha cercada de provas em contrário por todos os lados. Passou, então, a vender a tese segundo a qual não cometeu o crime de corrupção, fez "apenas" um caixa dois eleitoral. O lero-lero não colou.
Cabral trancou-se em seus rancores, silenciando no último interrogatório conduzido pelo juiz Marcelo Bretas, há dez dias. É contra esse pano de fundo que chega a notícia sobre a súbita paixão do corrupto fluminense pelo instituto da delação e, sobretudo, pela perspectiva de premiação. Sonha com uma prisão domiciliar.
Pela lógica da delação, Cabral teria de suar o dedo apontando para cima. O problema é que ele já frequenta o topo da cadeia alimentar na selva da corrupção.
Diz-se que o candidato a delator dispõe de segredos que incriminariam inclusive o Judiciário, espirrando lama até a altura do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Admita-se que não é um blefe. Ainda assim, qualquer negociação que resultasse na abertura automática da cela de Cabral seria intolerável.
A imagem de Cabral arrastando uma tornozeleira eletrônica entre o home theater e a sacada de um apartamento elegante de Ipanema estilhaçaria a vitrine carioca da Lava Jato. Além de desmoralizar o esforço anticorrupção, um acordo generoso com o larápio ofenderia as vítimas do assalto.
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