Governo fala em cortar gastos e promete presente de R$ 17 bi aos ruralistas
Jair Bolsonaro mandou distribuir aos ministros cartilha com orientações para os primeiros 100 dias de governo. O desafio primordial é cortar gastos. Para facilitar o entendimento da plateia, Onyx Lorenzoni, o futuro chefe da Casa Civil, recorreu à velha analogia doméstica. "A gente tem que ter um governo que faça como as famílias fazem. Se não dá para trocar o tênis, não troca o tênis. Tem que apertar o cinto, aperta o cinto. Se tem que negar o vestido para a filha, a gente tem que negar o vestido para a filha. É isso que esse governo vai fazer."
Aplicado a um caso específico, o reducionismo didático de Onyx faz da bancada ruralista uma espécie de filha preferida de Jair Bolsonaro. Como chefe da nova família imaginária de Brasília, o capitão cogita dar um presente de R$ 17 bilhões aos ruralistas. É algo para deixar os outros filhos —de industriais a trabalhadores— traumatizados pelo resto da vida. Confirmando-se o mimo, existe também o risco de a plateia concluir que a família-modelo não leva a sério sua própria lição.
Prestes a assumir um governo quebrado, Bolsonaro informou aos líderes ruralistas que colocará o peso do Planalto a serviço da aprovação de projeto de lei que perdoa dívidas acumuladas do agronegócio com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, o Funrural. A providência permitiria que parte da arrecadação do governo saísse pelo ladrão. E transformaria a analogia hipertrofiada de Onyx —"não troca o tênis", "aperta o cinto" e "nega o vestido para a filha"— numa nova versão do mesmo papo furado de sempre.
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