Enrosco de Flávio Bolsonaro contamina governo
É grande o esforço do Planalto para dissociar Jair Bolsonaro e seu governo do enrosco em que se meteu o senador eleito Flávio Bolsonaro. O vice-presidente Hamilton Mourão, agora no exercício da Presidência, disse que o caso que envolve o filho mais velho do presidente "não tem nada a ver com o governo". Para o general Mourão, a encrenca "cria algum problema familiar, mas não para o governo." Lamentavelmente, não é bem assim.
A coisa funciona segundo a lógica exposta na música de Claudinho e Bochecha, interpretada por Adriana Calcanhoto. Jair Bolsonaro sem Flávio Bolsonaro seria como "avião sem asa, fogueira sem brasa, futebol sem bola, Piu-piu sem Frajola." Políticos como os da dinastia Bolsonaro, que se vendem como protótipos da moralidade, convivem permanentemente com o risco de que, a qualquer momento, os fatos desautorizem o discurso.
Há três meses, Flávio Bolsonaro borrifava detergente no noticiário político. Ele dizia: "Não há a menor condição de apoiar Renan Calheiros para a presidência do Senado". Afirmava também que "o novo momento do Brasil pede um presidente inédito" na Câmara, não Rodrigo Maia. Hoje, o Planalto está fechado com a reeleição de Maia na Câmara. E Renan estende a mão para o filho do presidente, às voltas com o risco de estrear no Senado como protagonista de uma CPI.
Flávio Bolsonaro não aproveitou adequadamente as oportunidades que teve para se distanciar do amigo e ex-assessor Fabrício Queiroz, o correntista atípico do Coaf. E acabou virando uma oportunidade que os políticos se equipam para aproveitar no balcão em que serão expostas reformas como a da Previdência. Com sua própria movimentação bancária lançada no caldeirão da suspeição, o primeiro filho de Bolsonaro repete uma velha coreografia: agarra-se ao foro privilegiado, tenta anular provas, queixa-se de perseguição e oferece a sua "verdade" em conta-gotas. O país conhece esse filme. Mantido o enredo, o final pode não ser feliz.
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