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Josias de Souza

Jair Bolsonaro aproveitou mal a vitrine de Davos

Josias de Souza

22/01/2019 20h00

Criou-se em torno da estreia interncional de Jair Bolsonaro uma enorme expectativa. Dizia-se que, beneficiado pela ausência de estrelas como Donald Trump, o presidente brasileiro seria a grande atração do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Mas a montanha pariu uma decepção.

Foram à plateia, além de chefes de Estado e dirigentes de organismos multilarerais, alguns dos mais poderosos presidentes de corporações globais. Gente com potencial para influir nos rumos da economia mundial. Podendo esmiuçar o programa liberal que promete implantar no Brasil, Bolsonaro limitou-se a pronunciar um discurso vago. Absteve-se de citar metas e prazos.

Bolsonaro tinha 45 minutos para aguçar o apetite dos investidores estrangeiros. Falou por escassos seis minutos. Agradou a plateia ao dizer coisas definitivas sobre sua plataforma liberalizante. Mas decepcionou ao não definir muito bem as coisas. O dinheiro, como se sabe, foge da insegurança. E Bolsonaro só conseguiu passar segurança até certo ponto. O ponto de interrogação.

Guardadas as proporções, Bolsonaro viveu experiência semelhante à que foi vivenciada há três anos pelo presidente da Argentina, Mauricio Macri. Em 2016, um Macri recém-eleito foi a Davos para anunciar que promoveria uma guinada econômica em seu país. Acenou com mudanças rápidas e radicais. Hoje, os investidores que acreditaram contabilizam os prejuízos.

O desafio de Bolsonaro era encontrar um meio-termo. Mas o capitão confundiu o comedimento com falta de clareza. Escaldados, os investidores talvez observem o Brasil com olhos de São Tomé, pois em matéria de investimento, quem acredita piamente depois não pode piar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.