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Josias de Souza

Sujo, PT trata Flávio Bolsonaro como mal lavado

Josias de Souza

22/01/2019 05h12

Com a presença de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, parlamentares da legenda reuniram-se em Brasília na noite desta segunda-feira (21). Ao final do encontro, Gleisi e o deputado Paulo Pimenta, líder do partido na Câmara, cobraram punição para o senador eleito Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz, investigados sob a acusação de realizar movimentação suspeita em suas contas bancárias.

Alvo da Lava Jato, Gleisi recordou que Jair Bolsonaro, o pai de Flávio, chegou à Presidência tachando o PT de corrupto. "Ele disse que iria acabar com a corrupção. Colocou o Sergio Moro, algoz do presidente Lula, no Ministério da Justiça para dizer que uma das principais bandeiras seria o combate à corrupção. Eles têm que explicar isso à sociedade. Todos precisam ser investigados."

Paulo Pimenta lembrou que os dados colecionados pelo Coaf sobre a conta bancária "atípica" de Queiroz, o faz-tudo do primogênito de Jair Bolsonaro, ganhou o noticiário há mais de um mês. Na semana passada, vieram à luz dados referentes à conta do próprio Flávio Bolsonaro. E ninguém foi interrogado até o momento. "Se essa denúncia envolvesse alguém do PT, teria sido essa mesma postura do Ministério Público Federal?"

O entusiasmo com que caem em cima dos pecados do clã Bolsonaro denuncia um desejo incontido dos petistas de nivelar os novos donos do poder federal às culpas comuns do PT e dos seus parceiros nos 13 anos em que estiveram no comando. No afã de aproveitar a matéria-prima fornecida pelo filho mais velho do capitão, o petismo comete equívocos factuais. E esquece de mencionar (ou lembra de omitir) que há digitais petistas também no Caso Coaf.

Quem se ocupa do esquadrinhamento das contas de Flávio Bolsonaro e de Fabrício Queiroz, que o assessorou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, é o Ministério Público Estadual, não o MP Federal, como supõe o companheiro Paulo Pimenta. Convocados para dar explicações, o filho do presidente e seu ex-assessor não deram as caras. Noutros tempos, seriam conduzidos na marra. Mas o ministro Gilmar Mendes, do STF, proibiu as conduções coercitivas —sob aplausos do PT.

Graças a uma decisão liminar do ministro Luiz Fux, também do Supremo, a apuração que envolve Flávio e Queiroz encontra-se suspensa desde a semana passada. Mas Gleisi Hoffmann evita levar a Suprema Corte à alça de mira, pois seus magistrados julgarão em abril ações que podem resultar na revisão da regra sobre a prisão de condenados em segunda instância. Algo que abriria a cela de Lula.

Além de Flávio Bolsonaro, o MP do Rio vareja as contas de outros 27 deputados e ex-deputados estaduais. Junto com assessores, eles foram fisgados pelo Coaf em transações bancárias suspeitas. Entre todas as pessoas enroscadas, a que teve a movimentação mais volumosa foi Elisângela Barbieri. Coisa de R$ 26 milhões entre janeiro de 2011 e julho de 2017. Apura-se a origem.

Elisângela é assessora do presidente em exercício da Assembléia do Rio, o deputado estadual André Ceciliano, do PT. Ele nega qualquer malfeito. Alheio à suspeição companheira, Pimenta e Gleisi começam a mencionar a hipótese de abrir em Brasília uma CPI para espremer Flávio Bolsonaro. Alega-se que é preciso buscar atalhos para contornar a lentidão do Judiciário e do Ministério Público.

"Se não tivermos outro caminho, se percebermos que eles não vão investigar, que estão fazendo um jogo de proteção à família 'metralha', não nos resta outra alternativa que não seja o mecanismo (da CPI), para que a verdade possa aparecer", declarou Pimenta, grudando na dinastia Bolsonaro uma pecha equivalente ao apelido pejorativo que atormenta os filiados do partido da estrela vermelha desde o mensalão: Petralhas. "É um assunto para discutirmos com os demais partidos de oposição a partir da primeira semana de fevereiro", ecoou Gleisi.

Com sua cúpula presa, denunciada ou investigada, o PT lida com o odor que exala das contas do filho de Jair Bolsonaro com o entusiasmo de um gambá que fareja o cheiro de outro. O vigor com que o sujo aponta para o mal lavado desencoraja os críticos. Afinal, não convém discutir com especialistas.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.