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Josias de Souza

Agarrado a militares, Maduro apodreceu no cargo

Josias de Souza

23/01/2019 20h47

A Venezuela deixou de ser, momentaneamente, uma nação. Tornou-se um grande centro terapêutico. Dedica-se no momento a tratar da loucura do seu ditador. Nicolás Maduro apodreceu no cargo. Mas sua neurose o leva a crer que ainda preside. O surto é mais maníaco do que depressivo.

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UOL Notícias

Parte da cúpula militar da Venezuela, beneficiada por privilégio$ inauditos, continua batendo palmas para o maluco dançar. A restauração da sanidade depende da interrupção desses aplausos.

A maioria dos venezualenos e um pedaço notável da comunidade internacional já desligaram Maduro da tomada. O presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino do hospício.

Resta agora saber o que farão os militares. Se concordarem em vestir uma camisa de força em Maduro, o jogo estará jogado. Se optarem por manter a engrenagem repressora, a maluquice ganhará alguma sobrevida.

Na melhor das hipóteses, Guaidó consegue negociar uma transição com os militares. Algo que passa pela eventual anistia de crimes como tortura de opositores e assassinato de manifestantes. Na pior das hipóteses, os militares fincam o pé e as ruas tocam fogo no centro terapêutico.

A Venezuela já havia sido tomada por um surto de protestos em 2017. Mas a máquina repressora do Estado moeu o ânimo dos manifestantes. Estima-se que militares e milicianos pró-Maduro tenham passado nas armas mais de 140 revoltosos. As detenções são contadas na casa dos milhares.

A repressão resultou em apatia. Sobrevieram o derretimento da economia, o êxodo de patrícios famintos, a fraude eleitoral e a petulância de Maduro de tomar posse em 10 de janeiro para um segundo mandato. Tudo isso devolveu os venezuelanos ao meio-fio.

As ruas já não parecem dispostas a voltar bovinamente para casa. A demência de Maduro entrou em sua fase terminal.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.