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Josias de Souza

Caso Coaf reanima ala fisiológica do Congresso

Josias de Souza

23/01/2019 21h36

Um pedaço da equipe de Jair Bolsonaro já receia que o derretimento da biografia do filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro, interfira na articulação para a aprovação no Congresso das reformas econômicas do governo recém-empossado, especialmente a da Previdência. O receio não é infundado. Parlamentares fisiológicos, que aguardavam na esquina pelos primeiros tropeços do capitão, começaram a esfregar as mãos.

A deterioração do ambiente político já era esperada. O que surpreende é a velocidade do processo. A atmosfera começa a se degradar antes mesmo do início da nova Legislatura. Arma-se uma emboscada em dois atos. Num, espalha-se a ameaça de empurrar o filho do presidente, que assumirá o mandato de senador, para o Conselho de Ética ou até uma CPI. Noutro, acena-se com a montagem de um sistema de blindagem capaz de proteger o mandato de Flávio Bolsonaro.

Simultaneamente, discute-se o encaminhamento das reformas. Os profissionais do fisiologismo não falam em rejeição das propostas do governo. Ao contrário. Todos se declaram a favor de reformas como da da Previdência. Difícil é achar dois congressistas que defendam o mesmo modelo de reforma. Quando se oferecerem para discutir a unificação das posições, os patriotas do Congresso levarão à mesa o preço dos seus votos.

Bolsonaro elegeu-se prometendo destruir a lógica do toma-lá-dá-cá. Não contava com a desenvoltura do Coaf, o órgão que varejou as contas do primeiro-filho e do assessor Fabrício Queiroz. De passagem por Davos, na Suíça, o governador tucano de São Paulo, João Doria, combinou com o ministro Paulo Guedes, da Economia, a organização de uma cavalgada de 22 governadores pela Esplanada dos Ministérios. O pressuposto é o de que os governadores têm força para influir sobre deputados e senadores. O truque já foi tentado antes. Poucas vezes rendeu resultados. E quando rendeu, a conta ficou com o Tesouro Nacional.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.