Congresso reabre e Bolsonaro retarda propostas
Desde que foi eleito presidente da República, em outubro do ano passado, Jair Bolsonaro tenta organizar o seu governo. Mal comparando, a coisa funciona como a montagem de uma mercearia nova. O presidente teve dois meses de transição para compor uma equipe e transformar a conversa mole da campanha em algo sólido. Desde a posse, teve mais um mês para expor os seus projetos na vitrine. Nesta sexta-feira, o Congresso volta das férias e não há nessa vitrine nada além de vagas intenções.
Internado no hospital Albert Einstein, Bolsonaro mandou dizer que prepara mensagem a ser enviada ao Congresso em 7 de fevereiro. Vai esmiuçar seus planos. O porta-voz da Presidência antecipou o conteúdo. Uma "nova Previdência, mais humana e justa". Nem sinal dos detalhes. Uma proposta de "combate ao crime organizado e à corrupção". Nada de palpável. Um projeto para dar fim aos "gargalos logísticos que atrapalham os setores produtivos", seja lá o que isso signifique. E uma novidade marqueteira: a revisão da lei de segurança de barragens. Não é nada, não é nada, não é nada mesmo.
Bolsonaro chegou ao Planalto escorando-se em três estacas: o combate à corrupção, a restauração da segurança pública e as reformas econômicas, a começar da previdenciária. A retórica ética naufragou na movimentação bancária suspeita do filho Flávio Bolsonaro e no cheque repassado à primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo ex-assessor Fabrício Queiroz. As facções criminosas do Ceará informam que a segurança não virá do passe de mágina da distribuição de armas. E a reforma da Previdência ficou de fora da lista de prioridades dos primeiros cem dias, divulgada pelo Planalto na semana passada.
Um governo, para dar certo, precisa aprovar as reformas que promete. Para dar muito certo, o ideal é aprovar o essencial no início do mandato. No caso de Bolsonaro, o essencial é a reforma da Previdência. Um pecado menor, suportável, seria aprovar apenas parte do que foi prometido. A pior desgraça seria um cenário em que o presidente, um ano depois de tomar posse, começasse a se queixar de que não entregou o que prometeu porque o Congresso não permitiu. Para fugir desse figurino, Bolsonaro precisa levar sua mercadoria rapidamente à vitrine. Mas ele tem dificuldades de ultrapassar a fase do lero-lero.
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