Eleição do Senado vira briga de pátio de colégio
Normalmente, eleições para a presidência do Senado são monótonas. Quem liga na TV Senado por descuido não consegue desligar. Dorme. A disputa que vai ao ar nesta sexta-feira, porém, deve resultar numa animada programação. A julgar pelas cotoveladas trocadas longe das câmeras, Renan Calheiros e seus adversários protagonizarão no plenário uma briga típica de pátio de colégio. Ao final, pode acontecer tudo. Inclusive nada. Alguns senadores já não excluem a hipótese de levar a encrenca ao Supremo Tribunal Federal.
Redigiu-se na noite de quinta-feira (31), um edital que deu início a um curto-circuito num ambiente que já estava eletrificado. Assinou o documento o servidor Luiz Fernando Bandeira de Melo Filho, secretário-geral do Senado. Ele mantém com Renan um relacionamento do tipo unha e cutícula. A pretexto de estipular um roteiro para a disputa, Bandeira anotou que a sessão seria presidida pelo senador mais velho. Chama-se José Maranhão (MDB-PB).
Aliado de Renan, Maranhão já combinou que mandará ao arquivo qualquer manobra contrária aos interesses do cacique alagoano. Por exemplo: requerimento para que o voto dos senadores seja aberto, não secreto.
Ao chegar ao Senado, na manhã desta sexta-feira (1º), o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), último remanescente da Mesa Diretora da legislatura anterior, surpreendeu-se com o ato rubricado pelo doutor Bandeira. Alcolumbre acha que é ele quem deve presidir a eleição do Senado, não José Maranhão. Por isso, tomou três providências:
1) Como terceiro-suplente da Mesa que comandou os trabalhos na legislatura que se encerra, Alcolumbre assumiu interinamente a presidência do Senado. O posto está vago, pois Eunício Oliveira (MDB-CE), que ocupava a poltrona, não foi reeleito.
2) Na condição de presidente interino do Senado, Alcolumbre revogou o edital rubricado por Bandeira.
3) Na sequência, o interino exonerou o servidor pró-Renan do posto de secretário-geral do Senado.
Nos subterrâneos, Renan e seus aliados chamam Alcolumbre de "Juan Guaidó" do Senado, numa referência ao autoproclamado presidente interino da Venezuela. Sustentam que, como terceiro suplente, ele não poderia assumir a presidência. Afirmam, de resto, que Alcolumbre não tem isenção para comandar a eleição interna do Senado, pois ostenta a condição de candidato a presidente da Casa.
De fato, Alcolumbre disputa a mesma poltrona que Renan cobiça pela quinta vez. Dispõe do apoio do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civl), seu companheiro de DEM. Dá de ombros para os ataques de Renan. E não abre mão de presidir a sessão. Mais: alardeia nos bastidores que providenciará para que a escolha do novo presidente do Senado seja feira em votação aberta.
Para Renan e sua tropa, o voto aberto seria "um golpe", já que o regimento interno do Senado prevê voto secreto. Os rivais de Renan levarão ao plenário um abaixo-assinado pró-transparência. Afirma-se que está rubricado pela maioria dos senadores.
A confirmação da adesão em massa à tese do voto escancarado seria uma péssima notícia para Renan. Os próprios aliados do senador avaliam que, com o nome exposto no painel eletrônico, muitos senadores podem fugir da companhia tóxica, desembarcando de sua candidatura. Daí a perspectiva de que Renan e sua tropa levem a briga pelo comando da sessão e pela manutenção do voto secreto às últimas consequências.
Marcada para o final da tarde, a sessão certamente deslizará noite adentro. Recomenda-se separar a cerveja e a pipoca. A programação pode ser mais animada do que a novela, com barracos que nenhum BBB seria capaz de prover.
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