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Josias de Souza

Partidos do ‘centrão’ colocam Onyx na frigideira

Josias de Souza

11/02/2019 16h47

Com obstinação e método, líderes de partidos do chamado centrão levam o ministro Onyx Lorenzoni à frigideira. Alegam que falta ao chefe da Casa Civil da Presidência duas características vitais para um coordenador político: capacidade de ouvir e respeito ao contraditório. Celebram a disposição de Rodrigo Maia de ocupar o vácuo, desdobrando-se nos papeis de presidente da Câmara e articulador do Planalto. Mas avaliam que cabe a Jair Bolsonaro distensionar o ambiente.

Com quase três décadas de vivência parlamentar, Bolsonaro conhece o modo de agir do centrão. O grupo não faz oposição. Ao contrário, revela-se sempre disposto a apoiar o governo —qualquer governo. No momento, o grosso do conglomerado partidário declara-se favorável às reformas liberais do capitão. Mas seus operadores esclarecem que o centrão não tem pressa, tem demandas.

Os pedidos do grupo incluem, como de hábito, cargos e verbas. Alega-se que Onyx já foi informado. Entretanto, nas palavras de um dos líderes do centrão, o ministro "demora a agir". Comporta-se como se lançasse um "olho gordo" sobre espaços que os partidos conquistaram na máquina estatal em gestões passadas. Na prática, Onyx "está sendo frito em sua própria gordura".

Os profissionais do centrão não ignoram que a "empáfia" de Onyx tem dono. Por isso, não pedem a cabeça do ministro, reivindicam a atenção do chefe dele. O grupo espera que, após receber alta hospitalar, Bolsonaro dedique atenção à saúde da articulação política do Planalto, que, aos olhos do centrão, adoeceu com a garoa fina do primeiro mês de governo, antes da chegada das chuvas de março.

Esse jogo tem nome: toma-lá-dá-cá. A despeito da retórica encrespada, Bolsonaro terá de entrar em campo. Resta saber se o capitão conseguirá esclarecer aos seus eleitores o que os partidos desejam tomar e, sobretudo, o que seu governo se dispõe a dar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.