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Josias de Souza

Método de Bolsonaro consolida manicômiocracia

Josias de Souza

18/02/2019 20h19

A corrida presidencial de 2018 deixou uma má impressão. Mas a maioria do eleitorado fez vista grossa, no pressuposto de que campanha eleitoral é assim mesmo —um período em que alguns loucos recebem uma licença legal e dinheiro público para apresentar suas credenciais para dirigir o hospício. O que não se imaginava é que Jair Bolsonaro, depois de prevalecer sobre a insanidade alheia, transformaria rapidamente o seu governo numa espécie de centro terapêutico para tratar o presidente da República de sua esquizofrenia.

O processo de carbonização de Gustavo Bebianno, um ex-cordenador de campanha que Bolsonaro alojou num dos gabinetes ministeriais do Planalto, revelou que o presidente saltou do leito do Albert Einstein para o divã. Bolsonaro exibe um comportamento que oscila entre o maníaco e o depressivo.

Na semana passada, antes de deixar o hospital, Bolsonaro gravou entrevista para a TV chamando o ex-amigo Bebianno de mentiroso e anunciando que colocara a Polícia Federal no encalço dele. Até os amigos e auxiliares que o aguardavam em Brasília acharam que Bolsonaro agiu como um maníaco, capaz de fazer oposição a si mesmo. Seguiu-se um vaivém protagonizado por um presidente depressivo, com dificuldades para resolver a crise que ele mesmo fabricou. Às vésperas do final de semana, mandou dizer que já assinara a demissão do ministro. Mas o Diário Oficial circula na segunda-feira sem a exoneração de um Bebianno que foi mantido nas manchetes em estado crônico de demissão por quase uma semana.

O Brasil não merecia semelhante castigo. Depois de suportar a esquizogovernança de Dilma, de encarar a cleptoanálise de grupo de Temer e de descer ao manicômio prisional em que Lula se finge de preso político, o país terá de aturar mais uma presidência de miolo mole. Às vésperas da chegada do pacote anticrime e da reforma da Previdência no Congresso, Bolsonaro desperdiça energias com uma demissão que seria resolvida com os poucos segundos necessários para acomodar uma assinatura numa folha de papel. O nome disso é caos. Considerando-se que o governo mal começou, não resta ao brasileiro senão "jair se acostumando" com a manicômiocracia.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.