Fatiamento do caixa dois é prêmio à banda suja
Chegou ao Congresso o pacote anticrime de Sergio Moro. Ao contrário do que havia anunciado o ministro da Justiça, as propostas não foram acomodadas num mesmo embrulho. O governo decidiu fatiá-las. Fez isso para que o pedaço sobre a criminalização do caixa dois fosse servido numa fatia à parte. Moro alega que "reclamações razoáveis" dos congressistas levaram o governo a ajustar sua estratégia.
Que reclamações são essas? Bem, os políticos alegam que o caixa dois é um crime menos grave do que a corrupção e a violência praticada pelas facções criminosas. Pode-se enxergar a concordância de Sergio Moro em relação ao fatiamento de duas formas. Numa, o ministro foi pragmático. Para não prejudicar a totalidade do pacote, concordou com a tese de que o caixa dois é menos grave. Noutra visão, o recuo é uma rendição do ex-juiz da Lava Jato.
Em abril de 2017, quando ainda vestia toga, Moro disse na Universidade de Harvard que o caixa dois é uma "trapaça contra a democracia". "Para mim, a corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito. Se eu peguei essa propina e coloquei em uma conta na Suíça, isso é um crime, mas esse dinheiro está lá, não está mais fazendo mal a ninguém naquele momento. Agora, se eu utilizo para ganhar uma eleição, para trapacear uma eleição, isso para mim é terrível."
Se o Brasil fosse um país lógico, o governo aproveitaria a festejada renovação promovida pelas urnas de 2018 para testar os limites do novo Congresso. Mas o Planalto, com a inusitada concordância de Moro, ofereceu à banda velha da política a oportunidade de livrar seus culpados da forca sem prejudicar a corda que apertará o pescoço dos outros criminosos.
Na prática, o Planalto ofereceu ao pedaço podre do Congresso a oportunidade de proteger o próprio pescoço. Por uma dessas fatais coincidências, Moro foi ao Congresso acompanhado do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, um beneficiário confesso de caixa dois.
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