Topo

Josias de Souza

Jair Bolsonaro caluniou país que deveria presidir

Josias de Souza

06/03/2019 19h44

O caso do vídeo escatológico que Jair Bolsonaro veiculou na sua página oficial no Twitter é mais do que um mero atentado contra o bom gosto, o bom senso e o decoro. Ao afirmar que cenas como a do sujeito que manipula o ânus em público e recebe um banho de urina tornaram-se comuns no Carnaval de rua do Brasil, Bolsonaro entrou para a história como um caso único de presidente da República que comete calúnia e difamação contra o seu próprio país.

"Temos que expor a verdade para a população ter conhecimento", escreveu Bolsonaro na legenda do vídeo. "É isto que têm virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro", ele completou. O que Bolsonaro disse, com outras palavras, foi o seguinte: "A obscenidade praticada por essas duas pessoas do vídeo é repetida Brasil afora por milhares de brasileiros. É comum." Ora, não é preciso gostar do Carnaval para saber que isso é uma mentira.

Comum mesmo nos blocos carnavalescos de 2019 foi a associação que os foliões fizeram de Bolsonaro com os candidatos laranjas do PSL e com Fabrício Queiroz, o personagem cítrico que azeda os humores da família presidencial. A irritação com a cor alaranjada das fantasias não dá a Bolsonaro o direito de levar o Carnaval às manchetes internacionais como uma grande festa popular em que os brasileiros saem às ruas para sambar e urinar uns sobre os outros.

A deseducação e a desinformação sempre fizeram parte da personalidade política de Bolsonaro. Mas a Presidência lhe deu uma tribuna vitaminada, que ele potencializou ao encostar o Planalto nas redes sociais. De um presidente, espera-se que aproveite esse palanque privilegiado para irradiar confiança e bons exemplos. Bolsonaro vem espalhando ódio e desinformação. Talvez devesse fazer uma concessão ao decoro. Do contrário, vai acabar agigantando o general Hamilton Mourão, conferindo à vice-presidência, pelo contraste, um conteúdo de inusitada moderação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.