Sem apoio de procuradores, Dodge depende de Bolsonaro para renovar mandato
A seis meses do término de sua primeira gestão à frente da Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge enfrenta dificuldades para renovar o mandato por mais dois anos. Tornou-se impopular na instituição. É improvável que consiga obter votos para que seu nome conste da lista tríplice a ser enviada para Jair Bolsonaro. Em privado, procuradores dizem estar convencidos de que Dodge cultiva a expectativa de ser indicada pelo presidente da República, à revelia da lista.
Nos governos petistas, Lula e Dilma Rousseff indicaram para a chefia do Ministério Público Federal o primeiro colocado da lista com os três nomes mais votados em eleição interna da corporação. Escolhida por Michel Temer em 2017, Raquel Dodge foi a segunda colocada. Contava na época com a simpatia do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e do ex-presidente José Sarney.
Em outubro do ano passado, ainda em campanha, Bolsonaro deixou em aberto a hipótese de ignorar a lista. "O critério [para a escolha do procurador-geral] é a isenção", disse Bolsonaro. "É alguém que esteja livre do viés ideológico de esquerda, que não tenha feito carreira em cima disso. Que não seja um ativista no passado por certas questões nacionais."
A impopularidade de Raquel Dodge na Procuradoria acentuou-se depois que ela se opôs a uma agenda sindical dos procuradores. Aprofundou-se um pouco mais após sua declaração de guerra à Lava Jato. Dodge pediu que o Supremo suspendesse a fundação que a força-tarefa de Curitiba cogitava criar com R$ 2,5 bilhões provenientes de acordo com a Petrobras. Foi atendida. Mesmo procuradores contrários à ideia da fundação avaliaram que Dodge deveria ter atuado internamente, não na vitrine da Suprema Corte.
Há na Procuradoria uma percepção de que a sucessão interna da instituição passará pela mesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato. Na semana passada, um procurador do grupo que ainda gravita ao redor de Raquel Dodge disse recear que Moro tente convencer Bolsonaro a indicar para a poltrona de procurador-geral Deltan Dallagnol, o coordenador da força-tarefa de Curitiba. Bobagem, diz Deltan, às voltas com um esforço para reduzir os danos da decisão do Supremo sobre a primazia da Justiça a Eleitoral para julgar casos de corrupção, quando a roubalheira estiver conectada com um caixa dois de campanha.
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