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Josias de Souza

Popularidade de Bolsonaro sangra sem oposição

Josias de Souza

20/03/2019 19h59

A popularidade de Jair Bolsonaro passa por um processo muito parecido com uma hemorragia. Em janeiro, 49% dos brasileiros consideravam a gestão do capitão ótima ou boa. Em pesquisa concluída pelo Ibope em 19 de março, a taxa de aprovação do presidente despencou para 34%. Um tombo de 15 pontos percentuais. No alvorecer do mandato de Bolsonaro, 62% dos patrícios diziam confiar no presidente. Decorridos menos de três meses de governo, apenas 49% continuam confiando no capitão —queda de 13 pontos percentuais. A taxa de desconfiança saltou 14 pontos, de 30% para 44%.

Comparando-se o desempenho de Bolsonaro com o de outros presidentes eleitos, ele conseguiu atingir um feito histórico. Amealhou o pior índice de aprovação na largada do primeiro mandato. Seus 34% ficam abaixo dos índices amealhados em março do ano inaugural por Dilma, Lula, FHC e Collor. A boa notícia é que o governo está apenas começando. A má notícia é que, tomado por sua capacidade de produzir crises do nada, Bolsonaro não oferece aos brasileiros motivos para avaliá-lo de forma positiva.

Bolsonaro sangrou sua própria popularidade sozinho, sem o auxílio da oposição. Contou apenas com a parceria doméstica dos filhos. Em menos de três meses, a família Bolsonaro foi encostada no noticiário sobre as milícias do Rio de Janeiro e estrelou as manchetes sobre o escândalo da movimentação bancária suspeita do amigo Fabrício Queiroz e do ex-chefe Flávio Bolsonaro. Descobriu-se que o PSL, partido do presidente é um laranjal. E soube-se que Bolsonaro tem um grau de tolerância elástico com ministro suspeito.

Deve-se a queda na popularidade também à perda do encantamento com as mágicas prometidas durante a campanha. A reforma da Previdência arrasta o governo para o balcão, as ruas continuam inseguras e o desemprego permanece nas nuvens. Na eleição, Bolsonaro passava a impressão de que tiraria coelhos da cartola. Se quiser interromper a hemorragia terá que aperfeiçoar a mágica, tirando cartolas de dentro do coelho.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.