Assessor de Bolsonaro pede ‘pressão’ para ‘mostrar que povo manda no país’
O assessor especial de Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, resolveu meter-se numa polêmica nacional. Num instante em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sustenta que a desarticulação do governo põe em risco a reforma da Previdência, Filipe foi ao Twitter para pregar uma "pressão popular" capaz de "mostrar que o povo manda no país", não as forças que compõem o que ele chama de "poder estabelecido", "oligarquias dominantes", "sistema de privilégios" e "sindicato do crime".
Fiel seguidor do polemista Olavo de Carvalho e amigo do vereador carioca Carlos Bolsonaro, o filho tuiteiro do presidente, Filipe empilhou uma dezena de posts no Twitter nesta sexta-feira. Sem mencionar o nome de Rodrigo Maia, ele anotou: "Tentam vender para a equipe econômica a ilusão de que é possível romper com o sistema patrimonialista que existe há 500 anos, desde as Capitanias Hereditárias, por meio da cooperação ativa com os oligarcas e sem romper com a forma convencional de fazer política no Brasil."
Na véspera, o presidente da Câmara queixara-se num telefonema ao ministro Paulo Guedes (Economia) de ataques que recebera de Carlos Bolsonaro nas redes sociais. Maia disse a Guedes que, se é para ser atacado, desiste de articular a reforma da Previdência. Passou a considerar que a obtenção dos 308 votos necessários à aprovação da reforma é atribuição exclusiva de Jair Bolsonaro.
Sem dar nome aos bois, Filipe parece fazer alusão ao conflito num dos seus posts: "Fazem isso porque sabem que a única forma da equipe econômica conseguir o que quer, e refundar a economia brasileira em bases liberais, é recorrendo à enorme mobilização popular que só a agenda de idéias e valores da ala anti-establishment do governo é capaz de liberar."
Rodrigo Maia olha atravessado para as investidas cibernéticas de Carlos Bolsonaro não é de hoje. Mas o que tirou o deputado do sério foram postagens nas quais o filho 'Zero Dois' do presidente aliou-se ao ministro Sergio Moro (Justiça) na polêmica sobre o ritmo da tramitação legislativa do pacote anticrime e anticorrupção que o governo enviou à Câmara. Maia prioriza a reforma da Previdência. Moro defende que as duas matérias tenham tramitação simultânea.
Tomado pelas palavras que despejou no Twitter, Filipe Martins avalia que a pregação de Maia é coisa de político antiquado e desonesto: "…Tentam vender para a equipe do Ministério da Justiça a ilusão de que representantes da velha política e membros da elite oligárquica que se beneficiam dos esquemas da corrupção e do crime organizado vão aprovar o pacote anti-crime, desde que haja diálogo."
O assessor de Bolsonaro engancha novamente sua retórica nas ruas: "O establishment também tenta promover essa perspectiva porque sabe que sem um apoio popular massivo, destravado sobretudo pela ala anti-establishment do governo, não será possível manter a Operação Lava-Jato e muito menos quebrar a espinha dorsal do crime organizado."
Filipe assume às claras que o governo Bolsonaro não tem unidade. Está dividido entre uma banda que se autoproclama "anti-establishment" e o resto. Ele avalia que as forças do atraso tentam abrir um fosso entre as duas alas: "Há uma flagrante tentativa de isolar a ala anti-establishment do governo Bolsonaro, lançando sobre ela uma série de adjetivações maliciosas e de acusações infundadas que não cumprem outra função senão a de torná-la tóxica e mal-vista pelas outras alas que compõem o governo."
O assessor de Bolsonaro apimentou seu diagnóstico: "Fazem isso também por saber que as principais propostas do governo—na economia, na justiça, na política e em todas as outras áreas—representam desafios claros e frontais ao poder estabelecido, às oligarquias dominantes, ao sistema de privilégios e ao sindicato do crime."
Para o auxiliar internacional da Presidência, a saída é unir as duas bandas do governo numa mesma charanga populista: "Essa situação revela a urgência de uma coordenação efetiva entre as diferentes alas do governo para trazer o apoio popular para dentro da equação, de modo que o povo tenha um papel ativo na proteção da Lava-Jato, na promoção das reformas econômicas e na quebra da velha política."
As teses de Filipe Martins são muito populares na bolha de internet em que o governo escolheu viver. O problema é que, fora da bolha das redes sociais, há uma reforma previdenciária empacada, uma economia anestesiada pela dúvida, um Coaf que coleciona dados tóxicos para a família Bolsonaro, uma guerra entre a Lava Jato e o STF e um presidente da República cuja aprovação despencou 15 pontos percentuais em menos de três meses.
Para os 12 milhões de desempregados, essa realidade rústica é um desalento. Para a chamada velha política, é uma oportunidade de negócios. Esse tipo de encrenca costuma ser resolvido com boa política, não com bravatas digitais. Resta saber que jogo, afinal, Jair Bolsonaro deseja jogar. O sonho da democracia direta ainda não se materializou.
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