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Josias de Souza

Vélez no MEC virou um crime de lesa-educação

Josias de Souza

29/03/2019 01h16

Em três meses de governo, Jair Bolsonaro ofereceu muito pouco aos brasileiros em matéria de discernimento. Eis que, de repente, numa entrevista do tipo quebra-queixo, dessas em que os repórteres enfiam gravadores e microfones na goela do entrevistado, baixou sobre o presidente uma revelação do óbvio. Bolsonaro reconheceu diante das câmeras que há "problemas" no Ministério da Educação.

Embora fale em "problemas", assim, no plural, a encrenca é singular. Atende pelo nome de Ricardo Vélez. "Ele é novo no assunto", disse Bolsonaro sobre o ministro da Educação, "não tem tato político, vou conversar com ele." Na noite da véspera, Bolsonaro havia desmentido no Twitter uma notícia sobre a demissão do ministro. Na entrevista, disse que o Ministério da Educação "tem que dar certo", pois é "um dos mais importantes" da Esplanada.

Eis aqui um paradoxo desconcertante: Bolsonaro nomeou para "um dos ministérios mais importantes" um sujeito que ele considera "novo no assunto". E não foi por falta de alternativa. Havia na praça gente com experiência e qualificação. Mas essa gente não tinha o aval do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro.

Vélez produziu no ministério apenas fumaça ideológica. Afastaram-se 16 assessores recém-nomeados. Se houvesse um caos semelhante no Ministério da Economia, o país viria abaixo. Mas o MEC só é prioridade no gogó.

Num país como o Brasil, onde 2,8 milhões de seres de 4 a 17 anos estão fora da escola, onde apenas 9% dos estudantes terminam o ensino médio com um aprendizado adequado em matemática, onde três em cada dez pessoas convivem com o analfabetismo funcional… num Brasil assim, a permanência de Vélez no MEC é um crime de lesa-educação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.