Celebração de 1964 evoluiu do erro à estupidez
Ordenar às Forças Armadas que fizessem as "comemorações devidas" do golpe de 1964 foi um erro crasso. Determinar à Advocacia-Geral da União que recorresse contra a decisão judicial que proibiu a celebração foi uma reincidência lamentável. Mobilizar a Secretaria de Comunicação da Presidência da República para espalhar um vídeo trombeteando a tese de que o Exército "salvou" o Brasil foi uma estupidez. A peça foi ecoada nas redes pelo deputado Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três do presidente.
Era para isso que o capitão queria o poder? Então, ele se serviu das urnas para transformar sua confusão mental num processo de rebaixamento do Estado democrático? Quer dizer que se elegeu pelo voto direto para enaltecer como chefe de Estado o regime que cassou, matou, torturou, exilou, censurou, fechou o Congresso e injetou um golpe dentro do outro com o AI-5? Ora, francamente!
Como deputado, Bolsonaro já havia deixado claro que confunde falta de memória com consciência limpa. Sempre disse que não houve golpe. Jamais admitiu os 21 anos de ditadura. Passava a impressão de não conhecer a si mesmo. Era como se levasse sustos frequentes diante do espelho. O diabo é que aquele parlamentar folclórico virou um presidente temerário. O vexame mudou de patamar.
Nada como a visão de Bolsonaro sobre o passado para fazer o brasileiro desanimar com os dias que correm e desacreditar nos que estão por vir. O capitão nunca teve um itinerário claro. Sabia-se apenas que queria ficar no volante. Descobre-se agora que governa com os olhos grudados no retrovisor. Político que venera o passado se arrisca a repetir velhos flagelos no presente, comprometendo o futuro.
De resto, quem olha muito para trás acaba torcendo o próprio pescoço. Há diante de Bolsonaro um Brasil por fazer. E o capitão desperdiça a sua hora percorrendo a rota da insensatez, um caminho que leva do erro à estupidez. Alega-se que Bolsonaro expurgou do Planalto o viés ideológico. Tolice. Ele apenas se esforça para substituir o "nós contra eles" pelo "eles contra nós". Se a conjuntura pede união, Bolsonaro capricha na divisão.
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