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Josias de Souza

Moro se nega a dizer se ditadura é termo preciso

Josias de Souza

01/04/2019 04h39

A dúvida, como se sabe, produz insônias torturantes. A certeza, inversamente, funciona como um sonífero irresistível. Ao migrar do posto de juiz da Lava Jato para o cargo de ministro da Justiça, Sergio Moro conspirou contra o próprio sono.

Após flexibilizar suas certezas quanto à gravidade do delito de caixa dois na comparação com o crime de corrupção, Moro tornou gelatinosas suas convicções sobre o significado de termos como "ditadura" e "golpe militar".

Moro foi citado no miolo de uma ampla reportagem do New York Times sobre a decisão de Jair Bolsonaro de comemorar o golpe de 1964. O jornal anotou que, em 2017, o então juiz da Lava Jato chamara "a ditadura  militar" de "grande erro".

Na semana passada, entretanto, o agora ministro "se recusou a dizer se os termos 'golpe' e 'ditadura' são historicamente precisos." Sob Bolsonaro, informa o NYT, Moro prefere afirmar: "O que realmente interessa é que nós recuperamos nossa democracia."

Então, tá!

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.