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Josias de Souza

Câmara exclui chefe do Fisco de debate tributário

Josias de Souza

03/04/2019 16h23

Numa fase em que as desavenças entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro pareciam ameaçar a reforma da Previdência, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, foi ao Twitter. Pediu uma reação da sociedade "para cobrar de seus representantes as razões que justificam eles sacrificarem o país e fazerem o povo pagar a conta." Quem reagiu foi Maia, não a sociedade.

Sob o comando do seu presidente, a Câmara decidiu elaborar uma proposta de reforma tributária. Faz isso ignorando o chefe do Fisco e suas teses sobre a matéria. A proposta que Rodrigo Maia e os líderes partidários que o apoiam escolheram como ponto de partida para o debate foi elaborada pelo economista Bernardo Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF).

Appy sugere unificar cinco tributos (IPI, PIS, COFINS, ICMS e ISS) em um, a ser batizado de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Combinou-se que seu projeto tramitará a bordo de uma proposta de emenda constitucional subscrita pelo líder do MDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP).

Ao prestigiar as ideias de Appy, a Câmara atropela uma proposta de reforma tributária que os próprios deputados já debateram. Foi relatada pelo ex-deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que não conseguiu se reeleger. Está pronta para ser votada no plenário.

De resto, a retomada da discussão tributária torna sem nexo o argumento que Rodrigo Maia utilizara para retirar da vitrine o pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça). Alegara-se que a reforma da Previdência tinha prioridade. Moro argumentara que, sem furar a fila da proposta previdenciária, seria possível compatibilizar a tramitação simultânea.

A discordância entre Moro e Maia estava na origem da crise de relacionamento que eletrificou as relações entre o presidente da Câmara e Bolsonaro. Na escalada de ataques, Maia disse a certa altura que o governo é "um deserto de ideias". Foi quando Marcos Cintra resolveu meter sua colher na encrenca: "…Não aceito esta imputação. O Ministério da Economia, sob Paulo Guedes, tem sido um turbilhão renovador no país", escreveu no Twitter.

Embora os ânimos entre Maia e Bolsonaro estejam momentaneamente serenados, o deputado parece considerar que a Receita Federal, sob o comando de Cintra, é parte do Saara intelectual. Daí a exclusão de Cintra do debate.

Post do chefe do Fisco custou sua exclusão do debate sobre reforma tributária na Câmara

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.