Do mato do PT já não sai coelho, sai Zeca Dirceu
O desempenho do PT na audiência pública com Paulo Guedes, na Comissão de Justiça da Câmara, mostrou que o partido passa por uma crise etária. A crise da adolescência. Estalando de pureza moral, o petismo fez oposição como se o relógio tivesse recuado à década de 1990. Descobriu-se que os 13 anos de poder deram cabelos brancos ao PT, mas não ensinaram a legenda a usar o senso de ridículo.
Uma característica fundamental da dificuldade de julgamento das pessoas que assistiram ao espetáculo foi ter que ouvir os deputados interrogando o ministro durante quase sete horas para chegar à conclusão de que eles não tinham nada a dizer. Antes que a sessão terminasse em baixaria, 24 parlamentares tiveram a oportunidade de dirigir questionamentos a Guedes —17 eram da oposição.
Repetindo: 70,8% das questões foram formuladas pela oposição. No geral, serviram para três coisas: 1) Mostrar que o PT não só acredita em vida depois da morte como exerce na plenitude o direito de construir o seu próprio caminho rumo ao inferno; 2) Revelar que outras legendas de oposição, como o PSB, se descolam do petismo; e 3) Realçar o talento de Paulo Guedes para lidar com o contraditório.
A milícia do centrão e seus agregados não deram as caras. Recusaram-se a suar o paletó em defesa de Guedes antes de ouvir de Jair Bolsonaro, em audiências marcadas para esta quinta-feira, o que o governo tem a oferecer em troca do apoio à reforma da Previdência. Assim, exceto pelos aplausos de alguns gatos pingados do governismo, o ministro só ouviu a voz da oposição.
Conforme já noticiado aqui, Guedes combateu os petistas com munição fornecida pelo próprio PT. Esfregou na cara dos adversários os erros e as omissões dos governos de Lula e Dilma. No mais, toureou os oposicionistas que fizeram algum nexo —como Tadeu Alencar (PE) e Alessandro Molon (RJ). Representantes do PSB, ambos questionaram a reforma proposta por Guedes sem deixar de reconhecer que a Previdência precisa de ajustes.
Quanto ao PT, sem nenhuma ideia alternativa, o partido revelou-se presa fácil para Guedes. Ao expor o enorme passado que a legenda tem pela frente, o ministro foi minando o equilíbrio dos rivais. Até o momento em que, esgotados os truques, Zeca Dirceu (PT-PR), herdeiro do grão-petista José Dirceu, retirou da cartola um insulto:
"Eu estou vendo, ministro, que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidades. O senhor é tigrão quando é com os agricultores, os professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país."
E Paulo Guedes, com o microfone desligado: "Tchutchuca é a mãe, é a avó, respeita as pessoas. […] Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita. Se você não me respeita, não merece meu respeito."
Restou demonstrado o seguinte: do mato do PT já não sai coelho, saem cobras, lagartos e Zeca Dirceu. Quando falam, os petistas dão a impressão de que procuram ideias desesperadamente, como cachorros que esconderam ossos e esqueceram a localização do esconderijo.
O PT não aprendeu a lição das urnas de 2018. Empenhados em desqualificar o ministro da Economia e a proposta de reforma previdenciária do governo de Jair Bolsonaro, os petistas esqueceram de qualificar o partido como uma força política habilitada a retornar ao Planalto.
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