Vélez na Educação virou anedota de colombiano
Indicado pelo polemista Olavo de Carvalho, oráculo da família Bolsonaro, Ricardo Vélez caiu de paraquedas na Esplanada dos Ministérios. Revelou-se rapidamente um desastre político e gerencial. Hoje, perambula pela conjuntura como a primeira anedota da história a ocupar a poltrona de ministro da Educação.
Mal comparando, o agora quase-ex-ministro ficou numa situação muito parecida com a do personagem de uma piada de, digamos, colombiano. Na anedota, um colombiano chamado Manuel entra para a Aeronáutica. Na divisão de paraquedismo, ele recebe sua primeira aula prática.
Estamos a dois mil metros de altura, explica o instrutor. Seu equipamento foi todo checado. O senhor saltará por aquela porta. Ao puxar a primeira cordinha, o paraquedas se abrirá. Se isso não acontecer, o que é pouco provável, puxe a segunda cordinha. Se ainda assim o paraquedas não se abrir, o que é improbabilíssimo, puxe a terceira cordinha. E ele se abrirá. Lá embaixo, haverá um jipe à sua espera, para levá-lo de volta ao quartel.
Manuel, o colombiano da piada, salta do avião. Puxa a primeira cordinha. O paraquedas não se abre. Puxa a segunda cordinha. Nada. Puxa a terceira cordinha. Como o equipamento permanece fechado, Manuel esboça alguma preocupação: Ai, Jesus! Agora só falta o jipe não estar lá embaixo.
Com Vélez sucedeu algo semelhante. Ele tenta proporcionar a si mesmo um pouso suave desde que assumiu. Com a pregação inaugural em favor de uma "escola sem partido", puxou sua primeira cordinha. Deu em polêmica. Puxou a segunda cordinha ao declarar que brasileiros em viagem "roubam coisas dos hotéis e o assento salva-vidas do avião", comportando-se como "canibais". Teve de pedir desculpas.
Na puxada da terceira cordinha, Vélez enviou carta às escolas recomendando que as crianças fossem filmadas cantando o hino nacional. Foi forçado a recuar. Passou a puxar cordinhas a esmo. Exonerou duas dezenas de assessores que acabara de contratar. Teve quatro secretários-executivos num intervalo de pouco mais de uma semana. Informou que mandaria reescrever os livros didáticos para esclarecer às crianças que não houve golpe militar em 1964.
Ex-paraquedista, Bolsonaro vinha sinalizando ao afilhado de Olavo de Carvalho que ele se espatifaria no chão. Na penúltima sinalização, o capitão disse a jornalistas, nesta sexta-feira, que a queda livre de Vélez pode chegar ao fim na próxima segunda-feira. Mas Vélez, abordado por jornalistas num evento público em São Paulo, deu a entender que acredita que há um jipe esperando por ele lá embaixo. "Não pretendo entregar o cargo."
Bolsonaro acha que dará fim ao problema demitindo Vélez. Engano. Ao nomear um ministro cuja única credencial era um aval do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o presidente informou ao país que o problema estava apenas começando. A demora em corrigir o erro revelou que uma gestão tão desgraçada no MEC não é engraçada. Produz na sociedade o pior tipo de humor. O mau humor. A coisa tende a piorar dependendo do nome do substituto.
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