Decreto de Bolsonaro dá novo sentido ao governo
Atenção: se você é comunista, globalista ou adepto do marxismo cultural, por favor, interrompa a leitura imediatamente. Feito o alerta, vai um esclarecimento que oferece aos críticos de Jair Bolsonaro uma segunda chance para evitar o desperdício de tempo com esse texto: o que se pretende fazer aqui é um elogio explícito ao capitão. Pronto, depois não diga que não foi avisado.
Pouca gente deu importância. Mas Jair Bolsonaro incluiu um decreto redentor no pacote de 18 atos baixados na festa dos 100 dias de governo. Trata-se do decreto número 9.758. Foi publicado numa edição extraordinária do Diário Oficial, na última quinta-feira (11). Começará a vigorar em 1º de maio. Promoverá uma revolução semântica no governo, dando um sentido novo aos envelopes, às correspondências e aos discursos no âmbito da administração pública federal.
Bolsonaro proibiu o uso de sete pronomes de tratamento. Estão banidos: Vossa Excelência ou Excelentíssimo, Vossa Senhoria, Vossa Magnificência, doutor, ilustre ou ilustríssimo, digno ou digníssimo e respeitável. Categórico, o decreto anota: "O único pronome de tratamento utilizado na comunicação com agentes públicos federais é 'senhor' [ou 'senhora'], independentemente do nível hierárquico, da natureza do cargo ou da função ou da ocasião." Vale inclusive para o presidente.
O decreto de Bolsonaro é extraordinário. Produz um alívio geral e instantâneo. Até aqui, o governo parecia decidido a suprimir toda a realidade num simples envelope ou num discurso solene. As pessoas se obrigavam a escrever no envelope: "Excelentíssimo senhor ministro". Acontece que certos "excelentíssimos" não exibem nenhum traço de excelência, muito menos em grau superlativo.
O sujeito era obrigado a dizer nos pronunciamentos oficiais em solenidades no Planalto: "Vossa Excelência, senhor presidente…" Ocorre que o capitão tampouco se revela excelente. Ao contrário —ele exercita sua precariedade cotidianamente, na frente das crianças.
Todo mundo ficaria desobrigado de fazer sentido no Brasil se ministros da cota do guru Olavo de Carvalho continuassem passando por "ilustríssimos". De resto, não se pode chamar de "digníssimo" um ministro condenado por improbidade. Impossível tachar de "respeitável" um ministro encrencado em escândalo cítrico-partidário?
Deve-se louvar o decreto de Bolsonaro. Não soluciona os problemas do país. Mas elimina o Brasil irreal que ofendia a inteligência coletiva num simples envelope, numa reles correspondência, num pronunciamento ordinário. O decreto de Bolsonaro deu novo sentido ao governo. Acabou o vale-tudo semântico. Num tributo à lógica, Bolsonaro decretou a existência de um governo isento de 'excelências'. A sinceridade é uma nobre virtude.
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